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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 165<br />

rio. Até aí, as palavras paz, independência e liberdade, acenadas sob a<br />

tutela da legitimidade e oficialmente garantidas, fizeram parte <strong>do</strong> Index<br />

político – a expressão é, de novo, de Debi<strong>do</strong>ur 85 – da odiosa instituição.<br />

Pois bem, da influência <strong>do</strong>s ventos, gera<strong>do</strong>s em contra-corrente ao<br />

carrega<strong>do</strong> contexto, que ro<strong>do</strong>piavam por terras da Alemanha,<br />

brotavam de novo em França, e teimavam fazer-se sentir outra vez em<br />

Espanha, não ficou arreda<strong>do</strong> o nosso país. O 24 de Agosto de 1820<br />

proporcionou-nos o privilégio de uma nova marginalidade, mas esta<br />

de senti<strong>do</strong> bem positivo. Portugal reencontrava-se consigo próprio fora<br />

de tutorias, únicas ou oligárquicas. Livre e independente, desfazia-se<br />

<strong>do</strong> duplo despotismo, o nacional e o estrangeiro. Neste novo contexto,<br />

reivindicava um lugar na Europa em sítio certo e autonomamente<br />

escolhi<strong>do</strong>, contra uma poderosa corrente de subjugação que a Santa<br />

Aliança personificava. O Manifesto aos Soberanos e Povos da Europa,<br />

marca oficialmente esse momento. No horizonte externo se perfilava a<br />

ameaça centrada nos aliança<strong>do</strong>s gabinetes; cá dentro se alimentava o<br />

desejo e a esperança de sermos nós, ao mesmo tempo que agoirentos<br />

nostálgicos internos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> espreitavam ocasião de regresso.<br />

Difícil se tornava cruzar estas situações numa linguagem de conveniência<br />

oposta. Por isso, entre a sujeição e a liberdade, este <strong>do</strong>cumento<br />

serviria inquestionavelmente a segunda, afrontan<strong>do</strong>, em última análise,<br />

a quem intencionava apaziguar. Vejamos:<br />

Evocan<strong>do</strong> também, como to<strong>do</strong>s, afinal, o nosso passa<strong>do</strong> de glória<br />

e, por afinidade, os benefícios que patenteámos ao velho continente,<br />

assume-se aí, sem subterfúgios, a nossa decadência e degradação<br />

geral, desfazen<strong>do</strong> equívocos de grandeza imaginária, e retrata-se, com<br />

realismo, a miséria e a <strong>do</strong>r de um país sofri<strong>do</strong>; mas alega-se, também,<br />

o esgotamento de paciência de uma nação briosa e ciente <strong>do</strong>s meios de<br />

remediar os seus males 86 . Anuncia-se o desejo de manter as relações<br />

políticas e comerciais com to<strong>do</strong>s os governos e povos da Europa; mas<br />

insere-se o acto revolucionário na pretensão de merecer a estima e<br />

consideração destes, pela via e opinião <strong>do</strong>s seus homens ilustra<strong>do</strong>s 87 .<br />

Reafirma-se o respeito e obediência ao nosso monarca; mas desfia-se<br />

um rosário de males decorrentes da sua humilhante fuga 88 . Faz-se<br />

——————————<br />

85 Ib.: VIII.<br />

86 SARAIVA, Cardeal, Manifesto da Nação Portuguesa aos soberanos e povos da<br />

Europa, in: GARRETT, A., Obra Política, Escritos <strong>do</strong> Vintismo – 1920-23, Lisboa, Editorial<br />

Estampa, p. 316.<br />

87 Ib.: 318.<br />

88 Ib.: 329.

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