Revista (PDF) - Universidade do Minho

CENTENÁRIO: KARL POPPER 2002 281
recursos suficientes para entender a origem e permitir a superação do
paradoxo que, no seu entender, pervade a atmosfera moral e política
das democracias liberais contemporâneas, a saber: a apregoação, no
discurso político, de um princípio de liberdade irrestrito, simultaneamente
utilizado pelas organizações estatais para imporem uma moralidade
pública às comunidades locais e às instituições tradicionais
modos de vida que lhes são alheios.
A finalizar os trabalhos científicos do Congresso, no dia 7,
domingo, pelas 16 horas, teve lugar no edifício principal da Universidade
a locução de encerramento intitulada «The last systematic philosopher»
a cargo de Marcelo Pera. Ajuizando que o método da
discussão crítica – aquele que compromete efectivamente os participantes
nela envolvidos a modificarem o seu entendimento em razão
dos melhores argumentos – constitui o principal legado do pensamento
de Popper, que soube aplicá-lo a quase todos os campos da
cultura, em especial à epistemologia e à filosofia social, o actual Presidente
do Senado Italiano e professor da Universidade de Pisa procurou
mostrar que ele permanece fecundo para lançar inteligibilidade sobre
a nova ordem de acontecimentos emergente após o declínio do mundo
comunista e o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001. Sucederam-lhe
as considerações finais do professor oxoniense Bryan
Magee, grande admirador e divulgador das ideias de Popper.
No que diz respeito à vertente social do Congresso, começamos
por assinalar a instrutiva manhã do dia 5, durante a qual um grupo
selecto de 25 participantes reunido junto à porta principal do Stephansdom
(10.00 h.) – a imponente catedral que, em pleno centro de
Viena, dá alma à cidade – teve a oportunidade de ser guiado pela
elegante verve de Malachi Hacohen – autor do notável ensaio biográfico
Karl Popper – The Formative Years (1902-1945): Politics and Philosophy
in Interwar Vienna (Cambridge: Cambridge University Press.
2000) – numa visita aos lugares que ficaram ligados a eventos decisivos
na vida de Popper, nomeadamente a casa, datada do século XVII,
situada a poucos metros da catedral, onde passou a sua infância e
juventude juntamente com os pais – Simon e Jenny – e as irmãs – Dora
e Annie – perdida pela família pouco depois do Anschluss de 1938, a
Freie Schule – escola elementar privada com um ensino de inspiração
não clerical – que Popper frequentou entre 1908 e 1913, o Franz Josef
Gymnasium – actualmente Bundesgymnasium Stubenbastei – onde
realizou os seus estudos entre 1914 e 1915 e por onde passaram antes
Karl Kraus, Paul Wittgenstein e Edgar Zilsel que, anos mais tarde,
haveriam de avaliar a sua maturidade no domínio da lógica aquando