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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 59<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a vida nos extremos limites 119 . Na verdade, «a<br />

liberdade precisa da liberdade de to<strong>do</strong>s os outros; eis porque só se<br />

pode realizar a liberdade política, sob a forma de uma segura estabilidade<br />

das instituições». Ora, «na liberdade enraízam-se os <strong>do</strong>is outros<br />

fenómenos europeus: a consciência da história e a vontade de ciência».<br />

Na verdade, «a liberdade faz nascer a necessidade da história, porquanto<br />

o Europeu quer ser a liberdade concreta, ou seja, a liberdade<br />

<strong>do</strong>s homens, viven<strong>do</strong> em harmonia entre si e com o mun<strong>do</strong> que os<br />

inspira.<br />

Só no Ocidente encontramos a liberdade, mesmo na consciência<br />

individual, unida à liberdade das condições exteriores. Liberdade<br />

social, liberdade religiosa, liberdade de personalidade, condicionam-se<br />

umas às outras. Mas como a liberdade nunca é para to<strong>do</strong>s, (…), a<br />

história é indispensável para a conquista da liberdade. Assim a necessidade<br />

de liberdade produz a história». Daí que acrescente que «foi só<br />

no Oci-dente que a exigência de liberdade conduziu à história,<br />

enquanto procura da liberdade política». E continua: «A liberdade<br />

concreta só cresce na vida em comum, quan<strong>do</strong> o homem evolui com o<br />

mun<strong>do</strong> que o rodeia. O que faz a grandeza da nossa história ocidental<br />

são os movimentos de liberdade realiza<strong>do</strong>s entre homens que falavam<br />

uns com os outros: em Atenas, na Roma republicana, na antiga<br />

Islândia, nas cidades <strong>do</strong> fim da Idade Média, na constituição da Suiça<br />

e <strong>do</strong>s Países Baixos, na ideia da Revolução Francesa, apesar da sua<br />

rápida queda e da sua passagem à ditadura, na história política<br />

clássica <strong>do</strong>s Ingleses e <strong>do</strong>s Americanos». Deste mo<strong>do</strong>, «o desenrolar<br />

<strong>do</strong> processus será tam-bém determina<strong>do</strong> pela consciência histórica.<br />

Não pode haver história propriamente dita sem conhecimento da<br />

história. Por isso só na Europa existe uma ciência universal da história<br />

e uma filosofia da história».<br />

Por último, «a liberdade exige a ciência, não só a ciência como<br />

passatempo <strong>do</strong>s nossos ócios, não só como técnica subordinada a fins<br />

práticos, não só como jogo <strong>do</strong> pensamento lógico, mas como vontade<br />

——————————<br />

119 Ib., p. 307 ss. Para Karl Jaspers, que se insere na corrente das filosofias da existência,<br />

o impluso <strong>do</strong> filosofar é multímo<strong>do</strong>, concorren<strong>do</strong> nesse processo o «espanto»<br />

(<strong>do</strong>nde provém a interrogação e a «comunicação humana»). Acerca <strong>do</strong> terceiro impulso,<br />

afirma: «As situações-limite – morte, acaso, culpa e insegurança – mostram o fracasso.<br />

Que farei eu perante este fracasso absoluto a cuja intuição me não posso furtar se honestamente<br />

o apreen<strong>do</strong>?». Karl Jaspers, Iniciação filosófica [1948], Lisboa, Guimarães<br />

Editores, 1961, pp. 21-31.

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