Revista (PDF) - Universidade do Minho
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DIACRÍTICA<br />
tude mundana, as suas lucubraçons filosóficas e europeístas. Curiosamente,<br />
serám as opinions e a actitude da sua amante, senhora <strong>do</strong><br />
paço de Portocelos, a respeito de Galiza o que desencadeará, em<br />
Berlim, a ruptura entre ambos. Sem embargo, o re-descobrimento e a<br />
re-valorizaçom de Galiza só se produzem, verdadeiramente, logo em<br />
Antuérpia, onde se dirigira para embarcar rumo ao porto d’A Corunha.<br />
Ali, nos peiraos e as dársenas <strong>do</strong> porto de Antuérpia, contemplan<strong>do</strong> o<br />
armazenamento e a circulaçom de merca<strong>do</strong>rias de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, em<br />
definitivo, os movimentos <strong>do</strong>s fluxos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> capitalista internacional,<br />
é que Adrián apalpa a possibilidade, e enxerga a utilidade, de<br />
encaixar a vida (os lavores) da sua remota aldea ourensana, e a vida<br />
(a produçom) da sua pequena pátria galega, nas grandes correntes<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> 37 .<br />
Adrián volta à sua terra e assenta-se na sua herdade, a cujas fainas<br />
dedica os seus esforços, compatíveis com o exercício priva<strong>do</strong> da filosofia,<br />
a leitura e a meditaçom, e com a exploraçom de Galiza que,<br />
como lhe acontecera na viage de retorno, lhe parece ve-la por primeira<br />
vez, mesmo os lugares ja conheci<strong>do</strong>s. Ten<strong>do</strong> concilia<strong>do</strong>, persoalmente<br />
e interiormente, ser galego e ser europeu, agora cumpre conciliar, exteriormente<br />
e colectivamente, esses mesmos factos, conjugan<strong>do</strong> galeguismo<br />
e europeísmo 38 . O ideal que abraça e a empresa em que se<br />
integrará é a construçom da «Europa <strong>do</strong>s Povos» 39 .<br />
Noutra orde de cousas, é importante assinalar que Arre<strong>do</strong>r de si é<br />
um texto sustenta<strong>do</strong> por um nós, por umha voz narrativa 40 que, ainda<br />
que remete para o indivíduo Pedrayo, quer representar um sujeito<br />
colectivo, designadamente, o movimento galeguista, o nacionalismo<br />
galego, em que Castelao é umha figura capital.<br />
——————————<br />
37 Devi<strong>do</strong> ao facto de polo Atlántico passar as grandes correntes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
(Arre<strong>do</strong>r de si, pp. 135- 136).<br />
38 «Por Galiza e na Galiza era Adrián europeo e pranetario» (Arre<strong>do</strong>r de si, p. 150).<br />
39 Assi, ele imagina: «o futuro mapa da Europa. As fronteiras non eran liñas de<br />
aduanas sinon vidales zonas de transición entr’as armoñosas concenceas <strong>do</strong>s pobos»<br />
(Arre<strong>do</strong>r de si, p. 151).<br />
40 O narra<strong>do</strong>r situa-se, desde o início <strong>do</strong> romance, na posiçom (a consciéncia<br />
nacionalista) que, ao final, atinge Adrián. Sobre este ponto, e muitos outros, tem um<br />
enorme interesse a «leitura» <strong>do</strong> romance, com os «tópicos» estuda<strong>do</strong>s, que leva a feito<br />
F. Casal na sua Aula literaria (A Corunha, 1994, pp. 81-186).