Revista (PDF) - Universidade do Minho
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ou o federalismo se institui, e com ele uma ordem internacional pacífica,<br />
ou a centralização política permanece, fundada no capitalismo ou<br />
no comunismo, e as guerras mundiais voltarão; assim julgou Proudhon<br />
a tragédia <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX, que preparava as guerras<br />
mundiais <strong>do</strong> século XX: «O século XX abrirá a era das federações,<br />
ou a humanidade recomeçará um purgatório de mil anos» 79 . Como<br />
ressoam hoje, com impacto, estas palavras de Proudhon, ao mesmo<br />
tempo solenes e simples.<br />
2. O ideal <strong>do</strong>s «Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da Europa»<br />
a) Os saint-simonianos<br />
DIACRÍTICA<br />
Ninguém se admirará que se relacione Auguste Comte (1798-1857)<br />
com os saint-simoniamos, ele que foi secretário de Saint-Simon antes<br />
da ruptura com o Mestre; a ele deve a inspiração dessa «República<br />
Ocidental», na qual queria divisar a primeira incarnação histórica <strong>do</strong><br />
espírito positivo. Deste mo<strong>do</strong>, «a ocidentalidade cada vez mais<br />
pronunciada <strong>do</strong> movimento regenera<strong>do</strong>r é muito-próprio para aí fazer<br />
prevalecer a regeneração intelectual e moral sobre uma regeneração<br />
temporal que apresentará necessariamente profundas variedades nacionais.<br />
Uma <strong>do</strong>utrina comum e costumes semelhantes, segun<strong>do</strong> um<br />
sistema uniforme de educação geral, dirigida e aplicada por um<br />
mesmo poder espiritual, eis o que, em to<strong>do</strong> o Ocidente, constitui agora<br />
a primeira necessidade social. À medida que for satisfeita, a reorganização<br />
temporal realizar-se-á por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> seguin<strong>do</strong> as conveniências<br />
de cada nacionalidade, sem que esta justa diversidade altere a unidade<br />
fundamental da grande república positivista (…)» 80 . Tinha este<br />
——————————<br />
aliança de to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s, grandes e pequenos, existentes actualmente na Europa,<br />
sob a presidência permanente de um Congresso. Subentende-se que cada Esta<strong>do</strong> conservaria<br />
a forma de governo que melhor lhe conviesse. Ora, dispon<strong>do</strong> cada Esta<strong>do</strong> no<br />
Congresso dum número de votos proporcional à sua população e ao seu território, os<br />
pequenos Esta<strong>do</strong>s estariam, dentro em breve, nesta pretensa Confederação, enfeuda<strong>do</strong>s<br />
aos grandes; mais ainda, se fosse possível que esta nova Santa Aliança pudesse ser<br />
animada por um princípio de evolução colectiva, vê-la-íamos prontamente degenerar,<br />
após uma conflagração interior, numa potência única, ou grande monarquia europeia.<br />
Uma semelhante federação não seria, pois, senão uma cilada e não teria nenhum<br />
senti<strong>do</strong>» (ib., p. 336, nota 46).<br />
79 Ib., pp. 355-356.<br />
80 Auguste Comte, Système de politique positive, vol. I, Paris, À la Librairie Scientifique-Industrielle<br />
de L. Mathias, 1851, pp. 81-82.