Revista (PDF) - Universidade do Minho

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DIACRÍTICA
duma nova ciência – as ciências humanas 28 , uma espécie de mistura
de filosofia da ciência e de fisiologia, antecipando o que Comte, vinte
anos mais tarde, designará por «sociologia»; baseadas na observação
dos factos, procurando desenvolver a análise da política e da moralidade
a um nível que se julga científico, organização será o termo chave:
todos os seres vivos estão organizados e os animais superiores estão
mais organizados do que os animais inferiores. Implicitamente ao
conceito de «organização» estava a ideia da integração e coesão de
fenómenos como algo positivo.
Quando escreveu Mémoire, Saint-Simon acreditava ainda que Europa
poderia ser salva da crise por uma pequena elite de cientistas, e
que a política de unificação de Europa poderia almejar-se mais ou
menos espontaneamente como resultado do «poder espiritual», via
ciências humanas. Contudo, com Da reorganição da sociedade europeia
29 (1814), obra escrita em colaboração com Augustin Thierry, nas
vésperas do Congresso de Viena, há já um plano detalhado acerca
da possível estrutura política duma União Europeia. Foi também o primeiro
a mostrar que a «indústria» tem um papel essencial no processo
de unificação europeia, porquanto promove o interesse comum:
«É um facto que todos os interesses comuns existentes na comunidade
europeia resultam das ciências, artes, leis, comércio, administração
e indústria» 30 . Seria lógico que a indústria e as restantes actividades
referidas estivessem representadas directamente no Parlamento
Europeu.
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28 Cf. Saint-Simon, Mémoire sur la science de l’homme [1813], Œuvres, vol. V,
pp. 40, 55.
29 Neste caso, três ordens de razões simultâneas concorreram para a elaboração
da obra: a guerra entre nações pode ser evitada mediante uma reorganização estrutural
da Europa; Europa será unificada por uma estrutura política independente de governos
individuais; a indústria tem uma função a desempenhar no processo de unificação de
Europa. Já em Mémoire sur la science de l’homme, o autor havia relevado esta razão: unir
Europa para evitar guerras fratricidas; e, se antes insistia no papel dos cientistas, agora
atribui uma função relevante aos industriais. Cf. R. Swedberg, op. cit., p. 153. Cf. Alfred
Péreire, «Introduction», Saint-Simon, De la réorganisation de la société européenne, Paris,
Les Presses Françaises, 1925, p. xxxvi. Henri Gouhier, La jeunesse d’Auguste Comte et la
formation du positivisme, vol. 3, Auguste Comte et Saint-Simon, Paris, Vrin, 1941, p. 41.
30 C.-H. Saint-Simon, De la réorganisation de la société européenne [1814], Œuvres,
vol. I, p. 200. Escreve também: «A política teológica e metafísica imaginam o sistema que
convém ao estado presente da civilização segundo a condição absoluta que for a melhor
possível. A política positiva determina-o pela observação, unicamente como sendo
aquele que a civilização tende a produzir» (Catéchisme des industriels [1823-24],
III. e Cahier, Œuvres, vol. IV, pp. 126-127).