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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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162<br />

DIACRÍTICA<br />

como: miseráveis, maltrapilhos, vagabun<strong>do</strong>s buscan<strong>do</strong> meios de subsistência<br />

e trabalho, sempre disponíveis para a execução de trabalhos<br />

ilícitos a troco de dinheiro, é a linguagem que emana das fontes que<br />

temos vin<strong>do</strong> a utilizar, para caracterizar as nossas tropas. Repare-se,<br />

entretanto, nesta situação inimaginável: o governo sentiu necessidade<br />

de publicar um decreto impeditivo de uso luxuoso de mesa aos generais<br />

em campanha, o que levou Bourgoing a exprimir enorme estupefacção<br />

77 . Neste quadro degrada<strong>do</strong>, referimos a excepção que constituiu<br />

o Conde de Lippe, que conseguiu impor alguma ordem e acção<br />

estratégica às tropas portuguesas.<br />

Quanto à artilharia e à cavalaria, o retrato não se modifica, e podemos,<br />

sem receio de grande deturpação <strong>do</strong> real, recorrer a Pierre<br />

Carrere: a primeira, é pesada e está ultrapassada; a segunda, é a mais<br />

mal mon-tada da Europa e os cavalos andam esfomea<strong>do</strong>s 78 . O mesmo<br />

autor ironizaria ao fazer contrastar a miserabilidade militar que nos<br />

caracterizava, com a auto-imagem que possuíamos nessa área, ao afirmarmos<br />

serem as nossas tropas as melhores e mais belas <strong>do</strong> universo 79 !<br />

Portugal parecia viver, de facto, num outro mun<strong>do</strong>. A preocupação<br />

com as questões internas, e a obcessão pelo resguar<strong>do</strong> e preservação<br />

<strong>do</strong> exterior e <strong>do</strong> novo, esgotavam a sua capacidade de actuação na<br />

Intendência policial e nas velhas instituições censórias e repressivas.<br />

E nem as contínuas guerras que assolavam a Europa, nem a constante<br />

situação de perigo iminente resultante de uma sensível posição no<br />

quadro geográfico-político, nem o divergente posicionamento que a<br />

Espanha e a França iam ocupan<strong>do</strong> na balança da Europa relativamente<br />

à velha aliada Inglaterra, pareciam preocupar o nosso poder.<br />

Na verdade, o quadro que Ruders veicula como resultante de observação<br />

directa, relativo ao recrutamento de pessoal para enfrentar a<br />

Espanha invasora em 1801, dá bem ideia <strong>do</strong> nosso descalabro imprevidente.<br />

As recusas gerais à incorporação militar determinavam que<br />

tivessem de ser leva<strong>do</strong>s à força ao comissário de Bairro grupos de 20,<br />

30 e 40 homens «ata<strong>do</strong>s com cordas uns aos outros» 80 .<br />

Esta visão, à primeira vista risível, confunde-se com o que transparece<br />

das informações fornecidas por outros autores fiáveis e sem<br />

preconceitos, como é o caso de Balbi. Com efeito, a irracionalidade,<br />

——————————<br />

77<br />

BOURGOING, op. cit, II: 5.<br />

78 P. CARRERE, op. cit.: 268.<br />

79 Ib.: 262.<br />

80<br />

RUDERS, op. cit.: 138.

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