Revista (PDF) - Universidade do Minho
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NÓS E A EUROPA 109<br />
livre, gentes livres dum/num povo livre. Em ambos os casos, e o<br />
mesmo acontece com Zernagora, a ecuaçom é simple: como todas<br />
elas, Galiza é um «objecto» e pode e deve ser um «sujeito».<br />
Mais exactamente, em primeiro lugar, Galiza é um objecto: como<br />
o é Irlanda, naquela altura sob o império británico; como o foi Mesénia<br />
na antiga Hélade 7 , e o era Grécia até o XIX sob o jugo turco; como<br />
o era Zernagora, até mais avança<strong>do</strong> o século e tamém sob o <strong>do</strong>mínio<br />
otomano. E, em segun<strong>do</strong> lugar, Galiza pode e deve ser um sujeito:<br />
como (pode e deve) Irlanda, que assi o quer 8 ; como ja o som Grécia e<br />
Zernagora. Com esta última, Galiza só partilha o desígnio emancipatório,<br />
mas com Irlanda e Grécia tem outros, e mais, traços comuns.<br />
Além das suas similares situaçons, a existéncia submersa sob um<br />
<strong>do</strong>mínio alhea<strong>do</strong>r, Galiza e Irlanda chegam mesmo a coincidir na sua<br />
esséncia, pois ambas seriam naçons, terras, «celtas» 9 . Esta circunstáncia,<br />
ignorada polos próprios galegos, forneceria a ocasiom para,<br />
descobrin<strong>do</strong>-a, recoñecerem-se no passa<strong>do</strong> (celta) e, despertan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
eterno presente, abrirem-se à história, projectan<strong>do</strong>-se no futuro. Este<br />
celtismo, em suma, mais que umha cultura física, é umha cultura<br />
psíquica, à qual a herança clássica helénica virá somar-se e encher de<br />
conti<strong>do</strong>. Com efeito, além das semelhanças e paralelismos com a<br />
situaçom galega que o mun<strong>do</strong> grego antigo oferece, é a sua cultura<br />
clássica, a possibilidade de recepcionar e assimilar a civilidade helénica<br />
tornan<strong>do</strong>-a acervo próprio, o que motiva a aproximaçom de<br />
Grécia e Galiza. O recurso ao «celta» e o «grego» é, pois, fermento<br />
fundamental para a empresa emancipatória que cumpre aos galegos<br />
realizar, tornan<strong>do</strong>-se eles próprios sujeitos históricos, converten<strong>do</strong><br />
Galiza num sujeito político.<br />
Ora, o resulta<strong>do</strong> desse processo de transformaçom nom ha ser,<br />
segun<strong>do</strong> vemos em Queixumes <strong>do</strong>s pinos, a fragmentaçom de Espanha<br />
e a segregaçom de Galiza, senom que esta, constituída – e ja mesmo no<br />
movimento de se constituir – em sujeito, pode servir para revigorar a<br />
«caduca Ibéria» 10 , chegan<strong>do</strong> até a ajuntar os <strong>do</strong>us esta<strong>do</strong>s peninsu-<br />
——————————<br />
7 Significativamente, o poema n.º 72 (Queixumes <strong>do</strong>s pinos, p. 175).<br />
8 Designadamente, som evoca<strong>do</strong>s os «bons ideais» de Parnell e O’Connell (Queixumes<br />
<strong>do</strong>s pinos, p. 186).<br />
9 Pondal chega a referir-se a Galiza com nomes que seriam apropria<strong>do</strong>s para<br />
Irlanda: Finian, Erin (Queixumes <strong>do</strong>s pinos, p. 75 e p. 132).<br />
10 Queixumes <strong>do</strong>s pinos, p. 165. Ora, ainda mais <strong>do</strong> que este poema (o n.º 67), som<br />
representativos da vinculaçom ibérica: o que fai o n.º 45 (pp. 115-120) e o que fai o<br />
n.º 75 (pp. 181-182). Polo demais, Portugal é tamém simpaticamente aludi<strong>do</strong> no «hino<br />
galego»: Queixumes <strong>do</strong>s pinheiros e Outros poemas, p. 112.