Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
150<br />
DIACRÍTICA<br />
classifica o ministro de D. José como «homem extraordinário» que<br />
fez tremer diante de si a sanguinária Inquisição e a obrigou a um tom<br />
bem mais modera<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> justificação ao aforismo popular: «mal<br />
por mal, melhor Pombal!»; o arquitecto inglês Murphy situa-o como<br />
marco constituinte de uma época na história de Portugal 32 . Uma<br />
imagem bem favorável aos mais diversos níveis aparece, também, ao<br />
longo das Lettres écrites de Portugal, de Ph. Stevens, que faz um retrato<br />
histórico <strong>do</strong> reforma<strong>do</strong>r da universidade de Coimbra, devidamente<br />
assinala<strong>do</strong> em título, o que não deixa de ser sintomático, até em<br />
termos mercantis. Até o quase português Jacome Raton 33 enaltece<br />
este ministro sob vários ângulos, relevan<strong>do</strong> a sua capacidade administrativa,<br />
o favor às letras e à indústria, e até a rectidão <strong>do</strong> seu carácter.<br />
É, todavia, a obra de Comartin 34 que constitui, de entre as obras que<br />
cotejámos, o ponto mais alto <strong>do</strong>s juízos valorativos sobre este político.<br />
Nela é Portugal guinda<strong>do</strong>, através dessa áurea época josefina, a primeira<br />
potência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Roma não nos iguala no auge da sua<br />
glória, e o Marquês aparece como figura incomparável da história<br />
portuguesa.<br />
Nesta matéria encomiástica, é muito mais comedi<strong>do</strong> o Comte<br />
d’Albon. Por um la<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> o que escreve sobre nós tem apenas como<br />
objecto o rei-ministro-Pombal, pela acção conhecida <strong>do</strong> seu governo;<br />
contu<strong>do</strong>, não deixa de criticar com forte azedume o seu despotismo<br />
e acção policial que põem meio país a espiar outro meio 35 . É uma<br />
positividade crítica que encontra parceiro em Dalrymple 36 que, argumentan<strong>do</strong><br />
no senti<strong>do</strong> de provar uma acção governativa <strong>do</strong> visa<strong>do</strong><br />
digna de registo em múltiplos campos, discorrerá, todavia, com alvo<br />
——————————<br />
31 Por ex: in op. cit.: 61/62 e 109/110.<br />
32<br />
MURPHY, Jacques, Voyage a travers les Provinces d’Entre-Douro et <strong>Minho</strong>, de beira,<br />
d’Estremadure et d’Alenteju dans les années 1789 et 1790; contenant des observations sur<br />
les moeurs, les usages, le commerce, les Edifices publics, les arts, les Antiquités etc de ce<br />
royaume, trad., Paris Chez Denné, 1797, 1.º vol.: 242.<br />
33 Recordaçoens sobre occurrencias <strong>do</strong> seu tempo em Portugal durante o lapso de<br />
sesenta e tres annos e meio, alias de Maio de 1747 a Setembro de 1810 que rezidio em<br />
Lisboa: accompanhadas de algumas subsequentes reflexoens suas, para informaçoens de<br />
seus proprios filhos. Londres, Impresso por H. Buyer, 1813.<br />
34<br />
COMARTIN, P. M.-F. DEZOTEUX de – L’Administration de Sébastien-Joseph de<br />
Carvalho et Mêlo, comte d’Oeiras, Marquis de Pombal, Secrétaire d’État, et Premier Ministre<br />
du Roi de Portugal Joseph I, 4 tomos. Amsterdam, 1786-1789.<br />
35<br />
COMTE D’ALBON, op. cit.: 137 e segs.<br />
36<br />
1783.<br />
DALRYMPLE, W., Voyage en Espagne et en Portugal dans l’année 1774. Paris, s. ed.,