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Baixar - Proppi - UFF

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isso, principalmente, quando se tratava de casos de “homicídio”. Era, para eles, uma<br />

forma de “contextualizar melhor a situação”, mas também de marcar uma certa presença<br />

em relação à polícia que sempre era a primeira em chegar ao local. Marcar essa<br />

particularidade levou Valeria e Sebastián a lembrar uma sucessão de histórias, que<br />

enfatizavam as condições de “fazer justiça” em Los Pantanos.<br />

No 26 de dezembro do ano anterior (2006), após três dias de feriado por Natal,<br />

foi comunicada à UFI a morte de um jovem, em um bairro do departamento de Los<br />

Pantanos. Sebastián e o secretário na época se apresentaram no “local dos fatos”; no<br />

caso, a casa do jovem. Sebastián lembrava que eram dias em que a temperatura não<br />

baixava de 40 graus. Os moradores do bairro estavam na rua, alguns deles ainda de<br />

ressaca do dia 24. O chimarrão e a cerveja quente se misturavam com pedaços de<br />

panetone e leitão. Foi um grupo de vizinhos que tinha ligado para a polícia, por causa<br />

do forte fedor que saía da casa. O motivo era um jovem, de 25 anos, que tinha se<br />

matado com um tiro, supostamente por causa de uma mulher. Só que havia dessa triste<br />

decisão três ou quatro dias, de forte calor. E o cenário escolhido tinha sido o terraço da<br />

casa. Resultado, o corpo tinha enchido de tal forma que “era o mais parecido a uma bola<br />

preta”. Foi necessário chamar os bombeiros, os quais, segundo Sebastián, “colaboram<br />

com as tarefas mais nojentas”. Especificamente, guardaram o corpo dentro daqueles<br />

sacos plásticos pretos com feche, “esses que aparecem nos filmes americanos”. Só que,<br />

como lembrou Valeria, isto “estava acontecendo no conurbano bonaerense”. O<br />

bombeiro falou para o policial também presente “bom, dá descarga no morto na viatura<br />

que me levo o saco”; “como vou tirar o rapaz do saco!!”; “não se faça de idiota e tireo”,<br />

insistiu o bombeiro, que, dirigindo-se ao promotor reconheceu: “o que acontece,<br />

Doutor, é que esses policiais se fazem de idiotas e me roubam os sacos”. Valeria<br />

interveio no relato esclarecendo –por vias das dúvidas- que, em teoria, esses sacos eram<br />

descartáveis... “À exceção destas terras –concluiu Sebastián-, onde fiquei sabendo que<br />

os policiais depois de usados vendem os sacos vá saber para quem e os bombeiros<br />

estavam cansados de perderem seus sacos plásticos; assim tive que prometer que depois<br />

da autopsia o saco seria devolvido”. “Não, isso aqui não é C.S.I.”, disse Valeria.<br />

A falta de recursos nas histórias contadas combinava com a idiossincrasia do<br />

local e das pessoas envolvidas. Embora afirmassem também que “no contexto mais<br />

amplo, Los Pantanos não estava tão mal, porque tinha um IML [Morgue] e peritos<br />

próprios”. Só que não eram suficientes e sempre demoravam muito em chegar ao local.<br />

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