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Baixar - Proppi - UFF

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Público. Ela se entrevistava com os “imputados” e entregava um relatório informando o<br />

resultado de sua perícia.<br />

Uma semana após os depoimentos de Marisa e Carlos, a psicóloga passou pela<br />

sala de Valeria para conversar sobre esse e outro caso que também investigava<br />

Valeria 205 . Embora ainda não tivesse entregue o relatório da perícia, a psicóloga já tinha<br />

se entrevistado com Marisa e com Carlos. Comentou com Valeria que, na opinião dela:<br />

Carlos [referia-se a cada um deles apenas pelo sobrenome] “tem uma<br />

personalidade complicada, é muito dominador, ele não podia não se dar conta do<br />

que acontecia, ainda falava tudo em diminutivo e isso me deixava muito<br />

nervosa. Já Marisa [também pelo sobrenome], ela tem uma história familiar<br />

complicada, de abandono, desordem e, de fato, ela é muito desordenada. Minha<br />

impressão é que ela não consegue, como ninguém na verdade conseguiria, com<br />

cinco filhos. É demais para ela, então cria todo um discurso de que faz as coisas,<br />

mas é evidente que não pode.<br />

De alguma forma, as “impressões” da psicóloga iam de encontro com a opinião<br />

de Valeria: que ela mentia para ele e ele, acreditando nela, fazia tudo o que podia.<br />

Quando a psicóloga foi embora, Valeria comentou comigo que “de qualquer forma, o<br />

relatório psicológico não é determinante e o fato dela ter uma história complicada,<br />

penalmente não quer dizer nada”. Não era a primeira vez que os relatórios ou perícias<br />

psicológicas eram questionados. Na UFI, já tinha conversado com Bruno e Valeria<br />

sobre as dúvidas que, em alguns casos, lhes suscitavam as conclusões dos psicólogos.<br />

“Tem casos de abuso de menores –dizia Valeria- em que os psicólogos acreditam<br />

inevitavelmente nas crianças, em tudo o que elas dizem, e nem sempre as crianças<br />

dizem a verdade”. Bruno questionava a forma padronizada em que os relatórios eram<br />

elaborados, sem transluzir as particularidades de cada caso.<br />

O advogado Fellini também tinha comentado comigo sobre os critérios, às vezes,<br />

não claros das conclusões dos psicólogos nos seus relatórios. Contava de um caso em<br />

que dois psicólogos tinham elaborado exatamente o mesmo diagnóstico, mas do qual<br />

tiravam conclusões opostas. Contava-me também outro caso:<br />

Eu tenho um caso de um senhor que reconheceu diante de mim que entrava no<br />

quarto da filha da mulher e que a manuseava. Eu defendi o senhor, com a<br />

condição que saísse da casa. Bom, perícia psicológica sobre a menina; 16 anos a<br />

menina. Ela relata o fato e o psicólogo diz que não é crível, “não me convence,<br />

205 Tratava-se de um “abuso sexual” do padrasto com a enteada. A psicóloga tinha se entrevistado com o<br />

senhor e comentou que tinha lhe causado uma “impressão muito desagradável, com uma sexualidade<br />

pobre, uso de pornografia, um perverso”, concluiu, enquanto entregava o relatório da perícia, para ser<br />

anexado ao processo.<br />

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