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Baixar - Proppi - UFF

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“A tranqüilidade como cidadão” ou “que o culpado vá preso” foram também<br />

outras respostas. A réplica na pergunta por parte do presidente do tribunal tinha como<br />

finalidade assegurar, de modo formal, que a diversidade de respostas pudesse ser<br />

enquadrada de forma tal que não comprometesse o, igualmente formal, juramento de<br />

dizer a verdade. As testemunhas, por sua parte, pareciam expressar sua vontade de se<br />

posicionar de algum modo no processo. Se estavam aí para depor era porque, para elas,<br />

“deviam” ter algum “interesse”. O significado dessa categoria era diferente para uns e<br />

outros: para os juízes, ou melhor, para a formalidade do processo, podia comprometer o<br />

depoimento; para as testemunhas parecia lhe outorgar sentido. Uma vez passada esta<br />

etapa, o juiz dava a palavra ao promotor ou ao defensor, dependendo de quem tivesse<br />

solicitado a presença daquela testemunha. Dessa forma, começava o depoimento<br />

propriamente dito, no sentido delas contarem ou responderem sobre aquilo que tinham<br />

visto, ouvido ou sabido.<br />

No juicio contra Cacá, como disse, a primeira testemunha em depor foi seu<br />

Júlio, pai de Santiago. Aliás, todas as testemunhas que depuseram no primeiro dia<br />

foram as pessoas do “bairro” que tinham presenciado, de uma forma ou outra, o “fato”.<br />

Eram aqueles que na investigação tinham “reconhecido” ou indicado Cacá como autor<br />

dos disparos. E eram, portanto, as testemunhas da “acusação”. O segundo dia do juicio,<br />

por oposição, foi dedicado inteiramente às testemunhas da “defesa”; aqueles amigos,<br />

parentes e familiares de Cacá que poderiam fornecer um álibi que negasse sua<br />

participação no “fato”. Lembrei do caso de Dario, em que à exceção de mim, também<br />

todas as testemunhas já tinham deposto na etapa de instrução. No caso de Cacá, seus<br />

relatos seriam, portanto, não só conhecidos por mim, que tinha acompanhado os<br />

depoimentos na UFI presencialmente, mas também pelo promotor e eventualmente pelo<br />

advogado que tinham lido as atas dos depoimentos. Naquele dia, poderiam dar versões<br />

diferentes. Entretanto, como as atas tinham valor de documento público, as eventuais<br />

diferenças poderiam, como veremos, acarretar conseqüências para as próprias<br />

testemunhas.<br />

Através dos relatos, foi reconstruída a seqüência de eventos conforme tinha sido<br />

elaborada, no final da instrução, por Sebastián, no documento de “elevación a juicio”. O<br />

roubo, os disparos, a ida ao hospital, a “identificação” de Cacá, a nova ida de Cacá ao<br />

quiosque. As perguntas do promotor foram, quase sem hesitação alguma, respondidas<br />

pelas testemunhas do “bairro”, conformando e apresentando uma versão única e<br />

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