01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

informações tendentes “à descoberta da verdade”. Era, de fato, em ambos os casos, uma<br />

forma de fundamentar, em consonância com a lei, a versão defendida.<br />

O Dr. Juarez, advogado criminal, coincidia com o entendimento do “objetivo<br />

principal do direito penal ser descobrir a verdade histórica; a verdade do que aconteceu<br />

diante de um fato determinado”. Só que para ele esse objetivo manifesto era<br />

incompatível com um sistema no qual o promotor “era o dono do processo” e decidia<br />

qual prova aceitar e qual não. Ele e outros advogados coincidiam, em consonância com<br />

o discurso da lei, em afirmar a crença na existência de uma “verdade histórica”, embora<br />

pudessem ter críticas pontuais com as formas concretas como o sistema pretendia<br />

chegar a esse objetivo. Na opinião dos advogados, a forma com que o sistema era<br />

praticado nunca poderia “alcançar” aquela “verdade”. Pelo contrário, para eles, aquilo<br />

que o sistema e seus agentes pareciam produzir eram versões parciais de tal eventual<br />

“verdade”.<br />

Nos seus depoimentos, as testemunhas também faziam uso da categoria<br />

“verdade”. Nessas situações, a mesma era associada, de diversas formas, à finalidade do<br />

processo penal. Como vimos, nas audiências de juicios orales, algumas testemunhas<br />

respondiam ser seu “interesse” no processo, “que a verdade seja descoberta”, por vezes<br />

acompanhada de ouras frases como “que vão presos”; “que se resolva”; “que se<br />

condene”. Estas últimas frases marcavam também uma versão parcial da forma com que<br />

deveria ser “descoberta a verdade”, ou melhor, do resultado que deveria ter aquela<br />

“descoberta”. Também no âmbito da UFI a “verdade” aparecia como uma categoria<br />

associada a uma finalidade da investigação. A mãe de Angel, o jovem morto por um<br />

segurança quando supostamente iria roubar um posto de gasolina, foi visitar Valeria<br />

para “saber a verdade do que aconteceu”. No final do encontro, ela apontou: “eu sei que<br />

a senhora é boa pessoa, sei que a senhora vai descobrir a verdade do que aconteceu”. A<br />

sua preocupação não era saber por quem, nem como, o filho tinha sido morto, mas<br />

estabelecer que seu filho “não saía a roubar”. Para isso, disse estar “disposta a mostrar<br />

como viviam” e que seu filho “era incapaz de uma maldade”. Ela queria saber “a<br />

verdade” e sustentava para tal fim uma versão particular que estava – dizia- em<br />

condições de defender diante de Valeria. Esta última, no entanto, e como contei no<br />

Capítulo 5, dizia que embora não soubesse por que, a senhora não a “convencia”.<br />

Em relação a certos casos, também Valeria e Sebastián faziam referência à<br />

“verdade” com significados por vezes diferenciados. Lembro que, no caso Cacá, quando<br />

368

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!