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Baixar - Proppi - UFF

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testemunha ‘crível’, independente dela estar dizendo a “verdade” ou não. O problema da<br />

“mentira”, conforme colocado por estes advogados e defensores, era o fato dela,<br />

provavelmente, desestabilizar o relato e a atitude da testemunha, não o fato de não<br />

cumprir o juramento. “Na medida do possível tento que a testemunha venha dizer a<br />

verdade, se não suam muito”, avaliou o Dr. Magistir em relação às testemunhas<br />

solicitadas por ele para depor. O pressuposto não referia a que “a verdade” fosse mais<br />

ética ou mais “verdadeira”. A presunção era que a “verdade” podia ser mais “crível”.<br />

Essa credibilidade não estava colocada no relato (o que ela diria), mas no desempenho<br />

da testemunha. Fazia frente à avaliação que, após o depoimento, os funcionários das<br />

UFIs pudessem fazer sobre ela. Na minha percepção, estes últimos também não<br />

esperavam que a testemunha dissesse a “verdade”. Esperavam que seu depoimento fosse<br />

verossímil em relação aos parâmetros da hipótese que vinham se formando sobre o caso.<br />

Dona Rosa, personagem citada por Magistir como testemunha ideal, é uma<br />

figura do senso comum argentino. Ela foi criada pelo jornalista argentino Bernardo<br />

Neustadt, na década de ’60. Ele tinha um programa político na televisão e no rádio, que<br />

durou mais de 40 anos. Por ele, desfilou, senão toda, pelo menos enorme parte da classe<br />

política e também militar argentina. Além das entrevistas, o jornalista costumava<br />

introduzir e finalizar o programa com suas próprias reflexões. Utilizava para isso um<br />

recurso comunicativo original: falar ‘para’ ou ‘por’ Dona Rosa. Dona Rosa encarnava o<br />

estereotipo de uma dona de casa, portadora de um senso comum geralmente<br />

conservador e com opiniões generalistas sobre os diversos temas abordados: inflação<br />

(Dona Rosa no supermercado), corrupção (Dona Rosa paga seus impostos), eleições<br />

(Dona Rosa tem seu candidato), segurança pública (Dona Rosa teme por sua família),<br />

entre outros. O uso da figura de Dona Rosa passou a ser usado de forma generalizada,<br />

como encarnação de um tipo ideal de opinião média do cidadão médio. Por ser dona de<br />

casa, Dona Rosa ficava informada pelos jornais televisivos, ia ao mercado do bairro,<br />

comentava as notícias, passava a vassoura na calçada, conversava com os vizinhos,<br />

trocava informações e fofocas. Dona Rosa era crível, aos olhos do Dr. Magistir, porque,<br />

mulher de idade média e dona de casa, não pareceria representar interesses particulares.<br />

Ao tempo que conhecia o bairro e pelo bairro era conhecida.<br />

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