01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Nós somos defensores públicos, ou seja, os particulares podem utilizar outro<br />

tipo de mecanismos que eu não posso utilizar; de fato, eu faço aquilo que faço muito<br />

sutilmente e não deixo rastro nenhum”. Esta defensora pública se comparava com<br />

advogados particulares, rindo de suas próprias estratégias. Pairava uma idéia de que ter<br />

uma “atitude ofensiva”, como “sair a buscar testemunhas”, podia ser visto como pouco<br />

ético em relação à posição como defensores públicos. Isso, pelo contrário, no caso de<br />

advogados particulares, era esperável e não parecia gerar conflito ou controvérsia. Estes<br />

estavam fora do sistema, ou melhor, da corporação e comunidade de interesses de<br />

“Tribunales”. Moviam-se com maior facilidade entre esse mundo e o de fora, em<br />

especial, na relação com seus defendidos.<br />

Defensora pública: quando você recebe a pessoa que acabou de ser presa você<br />

tem a obrigação legal de manter uma entrevista prévia, de lhe aconselhar sobre a<br />

conveniência de depor ou de não depor e de lhe avisar que não depor não pode<br />

ser tomado contra ela porque o artigo 18 da constituição diz que, bla, bla, somos<br />

todos inocentes, isso tudo. Mas, quando você fala com o preso, primeiro você<br />

tem que estabelecer um grau de confiança imediata, porque você não é seu<br />

advogado de confiança, você não é Magistir [o advogado particular que me fez o<br />

nexo para a entrevista com ela], que ligam para você e dizem “Dr. Magistir,<br />

estou preso outra vez!”. Então, o Dr. Magistir sai correndo lhe buscar, já<br />

conhece. Você se encontra com um senhor como você me encontrou agora, sem<br />

conhecer quem é quem. Então, você tem que dizer “olhe, senhor, o senhor não<br />

me conhece, mas eu sou seu advogado defensor e tem que confiar em mim,<br />

gostando ou não, porque se o senhor mente para mim eu vou construir uma<br />

estratégia de defesa sobre uma mentira e isso é como um castelo de cartas; o<br />

vento vem e sopra”.<br />

Na visão dos defensores, o estabelecimento desse vínculo de confiança era mais<br />

vantajoso para um defensor particular do que para um público. Não todos os advogados<br />

particulares, porém, se sentiam excetuados da dificuldade de estabelecer essa confiança<br />

-“com o tempo [o defendido] vai relaxando, aí você vira até o confidente, mas nem<br />

sempre se dá, ou não se dá de vez”. Para defensores públicos e particulares “ganhar a<br />

confiança de seu defendido” era fundamental para construir uma estratégia de defesa,<br />

que não fosse “um castelo de cartas”. Havia nessa construção a noção da necessidade de<br />

uma confiança mútua. Se o “defendido” confiasse no defensor –“entendesse que<br />

estamos aí para defendê-lo”-, falaria para ele a “verdade”. Se o defensor acreditasse no<br />

seu “defendido”, poderia construir uma estratégia sólida de defesa, que não seria<br />

derrubada pelo vento. Não era uma questão de verdade ou mentira. Tratava-se de<br />

acreditar no relato de um e de outro, como ponto de partida para construir ‘um’ relato de<br />

175

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!