01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

eferência para todas as questões chamadas “operacionais” 19 . Passada a meia-noite de<br />

um dia de janeiro, nem o comisario nem o sub-comisario encontravam-se presentes na<br />

sede policial, embora estivessem de serviço. Gómez indicou aos dois policiais que<br />

passassem pela comisaría para irem juntos ao hospital. No trajeto, começou a se<br />

configurar uma trama de produção de provas que, posteriormente, acabaria levando<br />

Sánchez, Gómez, o comisario, o sub-comisario e um oficial de serviço ao banco dos<br />

réus.<br />

Aquela trama evidenciou formas de investigação e produção de provas<br />

observáveis em outras intervenções policiais e, sobretudo, em rotinas e práticas próprias<br />

da instituição policial. Cada uma delas identificável com categorias nativas específicas,<br />

cuja análise evidencia a naturalização de tais práticas na socialização policial 20 . Expor<br />

parte destas questões era o objetivo do advogado Luis Real, ao me propor depor como<br />

“antropóloga especialista” durante o julgamento. “Temos que demonstrar –me diziaque<br />

Resapo não é um maluquinho que atirou, mas que está coberto e encoberto por<br />

formas típicas de intervenção policial”.<br />

O fato de Resapo ter sido o autor do disparo não foi questionado nem durante a<br />

investigação policial (primeiros momentos após o evento) e judicial, nem durante o<br />

julgamento. “Escapou um tiro”, disse ele próprio para Gómez, assim que se<br />

encontraram. Fora esse consenso, as primeiras versões dadas por Sánchez, Resapo e<br />

Gómez davam lugar a conclusões diferentes. O primeiro relato dos fatos era que, dentro<br />

da viatura, Dario e Resapo estavam atracados; que Dario, estando armado, tentou tirar a<br />

arma dentre suas roupas e aí Resapo puxou a arma e saiu o disparo. Essa versão<br />

supunha não só que Dario estava armado, mas também que não estava algemado. As<br />

provas para ambas as condições teriam sido garantidas por Gómez desde que tomou<br />

conhecimento da situação. No trajeto da comisaría ao hospital, teriam detido o carro e<br />

retirado as algemas que Talarico havia colocado ao “reduzir” Dario, tal como indica o<br />

procedimento. Nesse mesmo trajeto, diante do desespero de Resapo – ele repetia sem<br />

parar “matei-o, matei-o, vou ser preso, vou ser preso”-, Gómez teria dito que ficasse<br />

19 Ao longo do juicio, ficou claro que os policiais da comisaría respondiam a Gómez e que este respondia<br />

diretamente ao comisario. Gómez foi referido em mais de uma oportunidade como sendo “o capanga”,<br />

“uma espécie de chefe”. Um alto chefe policial disse no seu depoimento: “Quando você tem mais de dez<br />

anos de comisario não deposita a confiança em um subcomisario que está aí há pouco tempo e advindo de<br />

Bombeiros, como era caso do subcomisario [da época]”. Aliás, o subcomisario foi um dos dois<br />

absolvidos no juicio.<br />

20 Para uma análise mais detalhada do caso em relação a estas práticas, ver Eilbaum, 2009 e Gubilei,<br />

2009.<br />

34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!