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Baixar - Proppi - UFF

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evisei minhas anotações sobre o primeiro depoimento. Quem tinha tomado aquele<br />

testemunho tinha sido Valeria.<br />

Antes de iniciar o depoimento, a mãe tinha começado a falar que Lucas Martín<br />

estava atualmente preso também por outro processo. Valeria a interrompeu: “não<br />

me conte, porque a senhora é a mãe e vai me contar coisas que eu não vou<br />

acreditar”. Caderno de campo, 20/11/07.<br />

Como disse, um artigo do código proibia certos graus de parentesco,<br />

considerados próximos, depor como testemunhas contra o “imputado”. Como<br />

testemunhas, elas deveriam dizer a verdade e, considerado o vínculo de sangue e/ou<br />

afetivo, estavam dispensadas, pelo legislador, da obrigação e responsabilidade de depor<br />

como tais. Implicitamente, estava o suposto de uma eventual parcialidade nos seus<br />

depoimentos, que, inclusive, os poderia levar a não cumprir o juramento de verdade. A<br />

posição de mãe, no caso de Lucas Martin, não tinha impedido ela de depor (não poderia<br />

ter respondido eventuais perguntas diretas que o incriminassem). Contudo, seu<br />

depoimento, pelo menos, aos olhos de Valeria, era visualizado de forma parcial: Valeria<br />

não iria “acreditar” nele.<br />

“(Não) acreditei”<br />

Os dias na UFI, entre um “turno” e outro, passavam entre conversas informais,<br />

leitura de processos e observação de depoimentos. Se os processos que li eram sobre<br />

homicídio, ou abuso desonesto, os casos que presenciava eram muito mais variados. Era<br />

inícios de novembro, quando lia um processo de homicídio envolvendo dois amigos.<br />

Alicia estava do meu lado, por tomar o depoimento de uma senhora, acompanhada pela<br />

advogada. A senhora era a “denunciante” em um processo de “defraudação” contra<br />

outra advogada. Na ocasião, a senhora tinha sido citada por Alicia para que realizasse<br />

um “plano caligráfico”, mas a senhora insistia para Alicia que ela não sabia ler, nem<br />

escrever. Alicia pediu para a advogada se sentar de costas para a senhora.<br />

Alicia: eu já lhe expliquei dez vezes, a senhora não me entende? Só tem que<br />

fazer a assinatura, não escrever tudo, porque a senhora me disse que tinha<br />

assinado o nome 176 .<br />

Senhora: porque me deram para copiar de outro papel, é isso que eu estava<br />

dizendo para você.<br />

Alicia: senhora, isso aqui é para o seu bem, não é contra a senhora. Isso aqui<br />

[assinalando o convênio] é sua letra?<br />

Senhora: não, já disse que não.<br />

176 Há muitas pessoas que não sabem ler nem escrever, mas aprendem a assinar o nome.<br />

198

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