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Baixar - Proppi - UFF

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Com as notícias fornecidas pela vizinha, parte da equipe dos policiais foi para a<br />

sede do Programa social da prefeitura. Deviam executar a “orden de detención” em<br />

nome de Marisa. Soube que não foi fácil; que Marisa resistiu muito, gritando e se<br />

mexendo contra os policiais. Uma imagem difícil de conciliar quando conheci sua<br />

estrutura física, de estatura baixa e muito magra. Mas, fácil de imaginar ao perceber<br />

nela um caráter enfático e forte. Outro grupo de policiais foi procurar Carlos, a fim de<br />

proceder também a sua detenção.<br />

Enquanto isso, a equipe do Ministério Público, mais dois policiais e eu ficamos<br />

na casa. A viatura da polícia estacionada na frente da casa, os golpes na porta e a<br />

chegada da ambulância provocaram que cinco ou seis vizinhos saíssem de suas casas ou<br />

interrompessem seus percursos para ver o que estava acontecendo na casa do casal.<br />

Entre eles, chegou ao lugar a nora da senhora Lar, cunhada de Marisa. Disse ter sido<br />

avisada por uma outra vizinha, na loja de comestíveis do bairro, que a polícia tinha<br />

entrado na casa. Ela morava há três quadras de distância. Pediu-me que a acompanhasse<br />

até a casa dela, para poder avisar o marido que a mãe dele estava sendo levada em<br />

ambulância. Valeria e Alicia concordaram.<br />

No trajeto de ida e volta, a nora de Lar não parou de falar. Contou-me que<br />

Marisa, “a mãe das crianças”, tinha sido adotada por Lar, mas que não era “irmã de<br />

sangue do marido”. Talvez de modo defensivo, disse que ela ia quase todos os dias para<br />

limpar e arear o quarto de Lar. Também lhe levava comida pronta da casa dela, me disse<br />

assinalando o saco plástico no qual levava o frango que acabava de comprar na loja de<br />

comestíveis. “Já das crianças não posso cuidar porque nós temos muitos problemas,<br />

meu marido está desempregado, tem hipertensão, e elas [as crianças] também têm seus<br />

próprios pais”, acrescentou voltando sobre o assunto várias vezes. Falou sobre o estado<br />

de saúde de Lar, a morte do bebê, a decisão de não contar esse fato para Lar, a<br />

“desordem” da casa. “Ela limpa, mas a casa fica desordenada”, me disse se referindo a<br />

Marisa. “Eu não sei por que, pois tem vizinhas que a ajudam”. Uma vez na casa dela,<br />

buscamos o marido. Apenas fiquei no jardim, cheio de flores e plantas bem cuidadas. O<br />

senhor me perguntou se a polícia tinha um mandado judicial para entrar na casa e, logo<br />

em seguida, manifestou sua preocupação pela mãe, sem mencionar o resto da família.<br />

intervenção judicial costuma ser a denúncia por ‘violência’, ‘negligência’ ou ‘abandono’, e nas quais as<br />

crianças, objeto da proteção, são institucionalizadas” (2009:162). Para o caso de políticas e práticas<br />

judiciais em relação à infância, no caso argentino, ver também Daroqui e Guemureman, 2001.<br />

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