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Baixar - Proppi - UFF

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isso acaba em algum problema”. Na época considerei esta afirmação um tanto<br />

determinista, mas, ao ler processos de “homicídios” em andamento, entendi o contexto<br />

do qual ela falava. Muitos desses casos envolviam problemas no “bairro” e, em alguns<br />

deles, grupos de rapazes em disputa, ou identificados como “problemáticos”.<br />

Para me dar um panorama mais completo sobre este crime, Valeria pediu para<br />

Sebastián trazer o “livro de autopsias”, chamado informalmente “livro dos mortos”.<br />

Sebastián Vázquez era o promotor “titular” daquela UFI; Valeria era a promotora<br />

“adjunta”. E o “livro dos mortos” era onde registravam a quantidade de “homicídios” e<br />

mortes por “turno”. No “turno” anterior à minha vista (do mês de agosto), por exemplo,<br />

estavam registrados sete “homicídios” e catorze “mortes”. No “turno” de julho, um<br />

“homicídio” e sete “mortes”. Ao trazer o livro, Sebastián Vázquez se incorporou à<br />

conversa. Ele disse que havia uma média de dois homicídios cada três dias, ou seja, 25<br />

por mês. Devo ter mostrado certa surpresa, pois ambos coincidiram em dizer: “sim, em<br />

Los Pantanos se mata muito”.<br />

Como “em Los Pantanos se mata muito”, o convite para observar o “turno”<br />

seguinte estava baseado na expectativa de poder acompanhar in loco casos de<br />

“homicídio”. Durante os três “turnos” sucessivos que acompanhei houve “mortes” e, em<br />

outro tipo de casos, houve idas ao “local dos fatos”. Mas, em nenhum dos três<br />

aconteceu sequer um homicídio que fizesse os promotores ir no “local dos fatos”! Esse<br />

“azar sociológico” virou objeto de diversos comentários na UFI. Além das piadas de<br />

que ‘eu’ não dava sorte para minha pesquisa, estavam aqueles que achavam que eu<br />

trazia “sorte” para eles porque os “turnos” eram mais tranqüilos; mas também estavam<br />

aqueles que, diferentemente, achavam que os “turnos” eram mais animados quando<br />

saíam para ir ao “local dos fatos”. Eu não consegui me resignar a que não tivesse um só<br />

homicídio durante todo o período que fiquei lá. Só pensava naqueles sete que tinham<br />

acontecido no “turno” anterior a minha chegada.<br />

Lembrei então quando fiz trabalho de campo em uma delegacia do Rio de<br />

Janeiro. Eu acompanhava os plantões de uma equipe de inspetores que trabalhava na<br />

escala de 24h por 72 horas. Foram várias as vezes que, ao chegar, o comentário era<br />

sempre referido a “tudo” o que tinha acontecido na delegacia na minha ausência. Pensei<br />

então que, com ou sem “homicídios”, os comentários sobre a abundância deles na<br />

minha ausência, sobre a ausência deles durante minha estada e sobre as valorações<br />

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