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Baixar - Proppi - UFF

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o acontecido, passando a custódia de Dario para eles, que estavam de serviço. Resapo<br />

ingressou com Dario na parte traseira do carro, enquanto Sanchez dirigia. Estavam a<br />

poucos minutos de um fato que mudaria a rotina que acreditavam estar reproduzindo.<br />

Com Dario na viatura, percorreram algumas quadras. Como ficara demonstrado<br />

posteriormente através da investigação judicial, o trajeto não foi feito em direção à<br />

comisaria. Foi um percurso errático, à baixa velocidade. O objetivo era tentar prender o<br />

amigo de Dario. Duas práticas policiais vieram em socorro de Resapo: “el apriete” e “el<br />

quiebre”. “Apertar” alguém é pressioná-lo física ou psiquicamente para extrair dele<br />

certas informações. “Quebrá-lo” é ter sucesso nessa tentativa, quer dizer, conseguir que<br />

o sujeito se dobre diante das pressões e ameaças e, assim, forneça a informação<br />

procurada. É uma antiga técnica de investigação policial, dentro de uma tradição<br />

investigativa que prioriza, antes que a produção de provas “técnicas” –perícias, testes de<br />

DNA, inspeções oculares, busca de digitais-, a obtenção de provas através de<br />

testemunhos orais e, dentro destas, sobretudo, a obtenção da confissão como garantia de<br />

“verdade”. O predomínio dessa característica do sistema penal argentino, dentre outras<br />

como a predominância da escrita sobre a oralidade (Eilbaum, 2008), inscreve suas<br />

práticas policiais e judiciais na tradição inquisitorial de produção de verdade judicial<br />

(Bovino; 1995; Tiscornia, 1998; Eilbaum; 2008; Renoldi, 2008a) 18 .<br />

Na parte de trás do carro, Resapo buscava que Dario dissesse –confessasse- em<br />

que direção teria fugido seu amigo e onde poderia estar. “Vai, vai, cante, cante onde<br />

está o outro...”, ouvia dizer Sanchez, a partir de sua posição de motorista. Resapo dizia<br />

isso enquanto posicionava a sua arma na têmpora de Dario. Dario afirmava que não<br />

conhecia o outro menino e Resapo insistia... Foi quando Sánchez escutou um disparo.<br />

“Eu escutava que Resapo lhe dizia [a Dario] ‘vai, vai, cante onde está o outro’,<br />

porque diziam que havia outro. O sujeito respondia que ele não tinha nada a ver.<br />

Nisso, escuto o disparo. Resapo vinha apertando o sujeito. Eu justo ia lhe tocar o<br />

joelho para que desse um tempo e justo nesse momento escuto o disparo. Resapo<br />

começou a gritar ‘matei-o, matei-o, vamos ao hospital’ e aí eu acelerei mais<br />

forte” (Do depoimento de Sánchez no processo judicial).<br />

Segundo consta no processo como resultado da investigação penal, eles não<br />

foram diretamente ao hospital, mas à sede policial. Sánchez ligou para Gómez, um<br />

oficial de polícia que era o terceiro em hierarquia na comisaría, mas a primeira<br />

18 A busca da confissão como “rainha das provas” como parte de uma tradição inquisitorial de produção<br />

de verdade tem sido assinalada, para o caso do Brasil, por Lima (1999; 2007) e Kant de Lima (1995;<br />

1999). No caso da França, ver (Garapon, 1997). Ver também Berman, 1996.<br />

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