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Baixar - Proppi - UFF

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e, mais tarde, teria aparecido dizendo “mataram Cacá”. E, agora, Raúl Lucero aparecia<br />

na UFI dizendo que não tinha acompanhado Cacá a lugar nenhum, que nunca teria dito<br />

aquela frase, que “o detesta”, que ele “não se mete nem com Cacá nem com seus<br />

amigos, não lhes dá bola”, que ele “trabalha” e que não tem, nem teve “problemas com<br />

a lei”.<br />

“É verdade que o imputado pode mentir – dizia Sebastián-, mas uma coisa é<br />

dizer que é inocente e outra coisa é que, além disso, diga que estava em tal lugar<br />

com tal pessoa e, ao investigar, essa informação caia, por que é que está<br />

mentindo assim?”.<br />

Estava presente na avaliação de Sebastián uma ponderação não pouco comum<br />

sobre o direito de mentir do “imputado”. Em outros casos, já tinha me chamado a<br />

atenção, em solicitações da UFI, como em resoluções de “juízes de garantias”, ponderar<br />

como uma variável negativa a “mendacidade do imputado”. Perguntava-me como isso<br />

podia ser explicitado dessa forma sendo um direito do “imputado” não depor sob<br />

juramento de dizer a verdade. A opinião de Sebastián mostrava que podia haver uma<br />

avaliação diferenciada da “mentira” manifesta pelo “imputado”. Quando nas resoluções<br />

tomava-se a “mendacidade” com sinal negativo não se referia tanto ao fato de “não<br />

dizer a verdade”, mas a contradições claras e manifestas contra outras “provas”. Diante<br />

delas, a palavra do “imputado” tinha sempre um valor menor. Eram contradições que<br />

não aportavam argumentos defensivos, mas apenas “indícios que não permitiam<br />

justificar a própria mentira”.<br />

Embora os amigos de Cacá tivessem deposto confirmando a versão dele sobre a<br />

briga com Sopa e sobre ele ter permanecido na “esquina”, eles não tinham aportado as<br />

precisões esperadas, nem seus ditos pareciam estar livres de pequenas contradições.<br />

Cacá poderia ter estado naquele dia com eles, como qualquer outro dia; naquele horário<br />

como em qualquer outro. Convocados pela mãe de Cacá para apoiar o filho, seus<br />

testemunhos não resultavam, na visão de Sebastián, fortes o suficiente para contrapor-se<br />

à versão aportada por Raúl Lucero. E esse peso diferencial devia-se a vários motivos<br />

que, mais uma vez eu percebia, não se vinculavam apenas, nem principalmente, ao<br />

conteúdo do relato, mas a atribuições morais e sociais sobre quem o apresentava.<br />

Desde antes do depoimento de Tony, a família de Cacá não só tinha se<br />

mobilizado no bairro, convocando os amigos como testemunhas de ‘uma’ versão sobre<br />

aquele dia, bem como encontrado e conversado com Raúl Lucero. Também tinham<br />

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