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Baixar - Proppi - UFF

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Promotor: continua trabalhando todos os sábados?<br />

Javier: não, na fábrica trabalho por temporada.<br />

Promotor: e como se lembra daquele dia?<br />

Javier: porque estava lá e lhe emprestei a bicicleta.<br />

Promotor: lembra o que o senhor fez no sábado seguinte?<br />

Javier: não.<br />

Promotor: e como se lembra daquele sábado, então?<br />

Javier: porque tenho que depor sobre um fato.<br />

Lembrei do advogado Magistir quando me explicava que, quando se tratava da<br />

testemunha da outra parte, ele a “fazia suar”. Era isso que queria o promotor? Que<br />

Javier entrasse em contradição? Ou, além disso, desacreditar a versão dele? Ou mais do<br />

que a versão, desacreditar o cunhado de Cacá como testemunha? Em tal caso, as<br />

ferramentas que tinha para esse objetivo eram diferentes daquelas que Sebastián teve na<br />

etapa de instrução. “Isso aí, em um juicio oral, com a presença do defensor e dos juízes,<br />

não passa não”, me disse Sebastián após ter tomado o depoimento dos dois cunhados e<br />

do amigo de Cacá. Referia-se a suas perguntas sobre os processos anteriores de Cacá,<br />

bem como ao envolvimento das próprias testemunhas em processos judiciais. Sebastián,<br />

como vimos, também tinha a possibilidade de editar a ata do depoimento, enfatizando,<br />

recortando ou alterando, senão o conteúdo, pelo menos a forma ou espontaneidade de<br />

certas frases. Curiosamente, essa ata era aquela que, depois, estava sendo usada durante<br />

o juicio para medir a veracidade da testemunha.<br />

“Há uma contradição e uma omissão”, notou o promotor. Esperava-se que a<br />

testemunha repetisse aquilo mesmo que tinha deposto anos atrás na instrução, a partir<br />

das perguntas de quem tivesse tomado seu depoimento? A reposta podia ser afirmativa,<br />

mas sempre dependendo de quem estivesse depondo. A formalidade era novamente<br />

utilizada de acordo com os interesses da hipótese defendida. Na mesma linha, –<br />

pensava- ser testemunha não parecia uma tarefa fácil. Lembrar demais ou lembrar de<br />

menos podiam ser interpretados alternativamente como sinais de contradição, omissão,<br />

ou mentira. Por que motivo lembrar de um sábado e não do seguinte? As ferramentas do<br />

promotor para destrinchar estas questões eram a indagação precisa, as perguntas<br />

retóricas ou irônicas e, fundamentalmente, o apelo à ata documentada do depoimento<br />

anterior. Fez o mesmo apelo quando depôs Tony, apontando outras “omissões” em<br />

relação ao depoimento na instrução.<br />

Naquela frase de Sebastián, a presença do defensor e do juiz como diferenciais<br />

do juicio em relação ao trabalho na UFI, aparecia como uma forma de controle sobre as<br />

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