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Baixar - Proppi - UFF

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“buches”. Por um lado, reconhecia-se sua utilidade investigativa; pelo outro, sua<br />

vinculação com atos de “corrupção”.<br />

Aqueles que mais buches têm, são aqueles que melhor investigam, e são os mais<br />

corruptos, é quase proporcional, têm mais informação, mais dinheiro e isso<br />

retro-alimenta o circuito. E o circuito é mais ou menos assim: “deixo você<br />

roubar e você me traz informação”; daí passa a “deixo você roubar e você me dá<br />

parte do que você rouba e me dá também informação”; daí passa a “deixo você<br />

roubar para você roubar para mim” e daí à eternidade. Até o buche querer se<br />

abrir e, então, terminar mal; no mínimo preso, no máximo em um poço.<br />

(Conversa com um promotor).<br />

A questão para este e outros promotores era que, embora a utilização de<br />

“buches” fosse uma ferramenta fundamental para o esclarecimento dos crimes, a relação<br />

do judiciário com essa instituição era complicada 235 . Ao não ser legal, não podiam<br />

reconhecê-la explicitamente. Deviam, então, dentre as ‘formas’ permitidas pelo<br />

processo, ser recriados mecanismos para outorgar validade judicial à informação<br />

aportada. Um era transformar o “buche” em “testemunha de identidade reservada”;<br />

outro era o “anônimo”, mas, segundo dizia Sebastián, era uma técnica de baixa<br />

credibilidade.<br />

É usar a imaginação. O policial vem e diz que as coisas roubadas estão em tal<br />

lugar e o assassino é Fulano; então, eu lhe digo “bom, pensemos a forma de<br />

chegar a essa informação de forma mais arrumada”. Por exemplo, você sabe que<br />

está na casa de Fulano e sabe que o vizinho dessa casa não sabe de nada, mas,<br />

então, mando o policial interrogar o vizinho, que diz “eu não sei, mas olhe pela<br />

parede”. Você olha e está o morto, ou as coisas roubadas. Não sei, imaginação.<br />

Quando no dia da “reconstituição” o irmão de Santiago disse que ele tinha visto<br />

a moto, através da casa de um vizinho, se abria uma brecha para solicitar, com nova<br />

informação “mais arrumada”, a segunda autorização para o “allanamiento”. Este foi<br />

autorizado pela juíza e realizado por Marconi e seus colegas. Efetivamente acharam<br />

‘uma’ moto no jardim daquele endereço, mas a mesma não era, nem tinha sido,<br />

propriedade de Quique. Naquele dia, Sebastián comentou que o fato de ter encontrado a<br />

moto teria sido muito importante porque “abria um canal para saber quem a teria dado<br />

para aquele garoto [o dono da casa “allanada”], sobretudo porque ainda não passou<br />

muito tempo e porque é tudo no bairro”. Nesta perspectiva, a situação envolvia uma<br />

proximidade não só temporal e espacial, mas também social. Pelo fato das linhas de<br />

235 “Há coisas das quais é melhor não saber”, prega uma máxima judicial de longa data. Essa máxima<br />

aplicava-se, entre os promotores, no caso dos “buches”.<br />

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