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Baixar - Proppi - UFF

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formas de tomar estes depoimentos por parte dos funcionários me permitiu desconstruir<br />

aquela padronização da fórmula jurídica.<br />

Sebastián entrou na sala para avisar Paco que ia vir um “308” de uma<br />

“apreensão” feita no dia anterior. “É um cara que comeu a mulher de um traficante, que,<br />

por sua vez, atirou no cara por outros negócios”, contextualizou Sebastián. Chegou uma<br />

funcionária de defensoria, informando de antemão que o “imputado” não iria depor, mas<br />

que ela presenciaria o depoimento, “porque está com a corda no pescoço”. Chamou-me<br />

a atenção o fato da funcionária da defensoria “confessar” tal situação sobre seu<br />

“defendido” diante dos funcionários da UFI. No entanto, ninguém se manifestou sobre<br />

aquele comentário. Com o tempo, percebi que o fluxo de informações entre promotorias<br />

e defensorias era bem mais flexível do que a posição institucional e funcional poderia<br />

fazer supor (ver Capítulo 6).<br />

Enquanto Paco tomava aquele depoimento, Bruno pedia, no meio de um “308”<br />

de um jovem, que se apresentasse alguém da defensoria, por solicitação do “imputado”,<br />

tal como o tinha feito no caso que contei no capítulo anterior. Bruno tinha perguntado o<br />

jovem se tinha tido a “entrevista prévia” com o defensor. “Sim, mas não fiquei<br />

satisfeito, me viu apenas dois minutos, disse que ia ligar para minha família e não<br />

ligou”, respondeu o jovem. Bruno lhe informou o nome da defensora. O garoto replicou<br />

que ela nem sequer tinha se apresentado. E começou falar dizendo que não estava<br />

consciente e nem sabia se tinha roubado ou não... Bruno interrompeu: “só vou escrever<br />

o que você disser com um advogado presente, sem ele nem presto atenção”.<br />

Uma semana depois assisti outro “308” com Bruno. Também nesse caso ele<br />

pediu que se apresentasse alguém da defensoria. Não era um caso comum na UFI.<br />

Carlos Alonso era um senhor de 46 anos, divorciado, vendedor de diversos produtos,<br />

morador de um bairro de classe média de Los Pantanos. Aparentava estar muito<br />

nervoso. Mexia as pernas incessantemente. Bruno informou que estava sendo<br />

“imputado”, por meio da denúncia de uma mulher, de estar com as chaves do carro dela.<br />

Enquanto Bruno falava, o senhor parecia querer dizer alguma coisa. Apenas conseguiu<br />

retirar do bolso as chaves de um carro.<br />

Bruno: você vai me dizer que as chaves do carro são essas, não é?<br />

Alonso: sim. E queria incorporar uma “exposição de motivos” 155 de minha exmulher<br />

em uma comisaría.<br />

155 Trata-se de um formulário e procedimento policial, através do qual se realiza uma espécie de denúncia.<br />

159

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