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Baixar - Proppi - UFF

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depoentes, muitas vezes resultando em explicações adicionais ou advertências: “atrás do<br />

senhor estão o promotor e o defensor, mas o senhor não tem que olhar para eles; eles<br />

vão lhe fazer perguntas e o senhor tem que olhar para o tribunal”, “não vire a cabeça”,<br />

“responda para o tribunal”. Entretanto, parecia haver um consenso em deixar fluir as<br />

falas e emoções. Talvez porque, mais do que os discursos e/ou encenações das “partes”,<br />

fosse o desempenho das testemunhas e do “imputado” os que contribuíssem para formar<br />

o convencimento do tribunal. Ou, talvez porque, como disse a rainha para Alice, no país<br />

das maravilhas, tudo já estivesse pré-determinado por aquilo construído na etapa de<br />

instrução. “Se já chegamos até aqui [o juicio], por alguma coisa será, porque alguma<br />

coisa fez”, dizia aquela defensora.<br />

“Quero ver a cara deles”<br />

O certo é que, contrastando com a formalidade dos discursos profissionais, a<br />

expressão ritual dos sentimentos por parte das testemunhas encontrava seu lugar,<br />

durante os depoimentos, entre o público ou, também, nos intervalos das audiências, nos<br />

corredores. Lembro de um juicio no qual dois jovens estavam sendo acusados de roubar<br />

e matar a dona de um quiosque em um bairro de Los Pantanos, no qual intervinha<br />

aquela defensora oficial que entrevistaria quase dois anos depois. Quando entrei na sala<br />

de audiência, estava depondo o marido da senhora morta. Contava sobre a noite do<br />

“fato”, quando o choro e as lágrimas interromperam momentaneamente o depoimento.<br />

No público, havia apenas dois homens. Eram os filhos da senhora. O mais novo chorava<br />

junto com o pai; o mais velho, olhando o “imputado”, sussurrava “filho da puta”. Em<br />

um dos intervalos, conversei com eles. O mais velho me contou que morava no exterior<br />

e que, na época 263 , tinha viajado para o funeral da mãe.<br />

Havia muitas pessoas presentes porque minha mãe era muito querida no bairro.<br />

Eu falava para ela fechar o quiosque e não trabalhar mais, mas ela não queria por<br />

isso, porque era a oportunidade para conversar com as pessoas do bairro. E aí<br />

veio este filho da puta. Eu via quando ele ria enquanto meu pai estava depondo.<br />

Eu quis vir para ver a cara deles [os “imputados” eram dois, um casal de jovens].<br />

Viu que ele disse que estava esperando um filho? Como a mulher pode se deixar<br />

engravidar por um cara assim?<br />

Como os intervalos naquele juicio foram muitos e prolongados, conversei<br />

bastante com a família. A todo momento o filho mais velho mostrava essa indignação<br />

263 O “fato” tinha acontecido no dia 23 de novembro de 2005. Aquele era o primeiro dia do juicio e era<br />

um onze de dezembro de 2007.<br />

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