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Baixar - Proppi - UFF

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depoimento, tomava com as mãos a barriga, como se estivesse incomodada ou dolorida.<br />

Quando Alicia lhe perguntou se iria depor, respondeu veementemente que já tinha dito<br />

que o faria: “não tenho nada a ocultar, quero terminar com isto, ademais está doendo”.<br />

A frase podia ser um tanto desarticulada, mas, ao tempo que mostrava uma forma rígida<br />

e decidida de responder, que se repetiria durante todo o depoimento, manifestava<br />

também o incômodo de sua situação como “detenida”.<br />

Através do depoimento da irmã de Marisa, já sabíamos que elas tinham entrado<br />

em contato apenas um ano atrás. Marisa tinha sido dada em adoção aos dois meses de<br />

idade. A senhora Lar, que morava com ela e Carlos, era sua mãe adotiva, portanto, o<br />

irmão presente no allanamiento, filho da senhora, era também irmão adotivo de Marisa.<br />

Segundo contou Carlos no seu depoimento, o encontro de Marisa com sua família de<br />

sangue foi um impacto; “teve um bloqueio, ficou pior, isso a deixou muito mal”. De<br />

outro modo, também Marisa expressou o mal-estar do reencontro com a família<br />

biológica, dizendo que não só não ajudavam em nada, mas que desde que os gêmeos<br />

tinham nascido até que Rodrigo morreu, “só vinham bisbilhotar”.<br />

Quem tomaria o depoimento de Marisa era Alicia, mas também Valeria se<br />

encontrava presente na sala e atenta ao desenvolvimento do mesmo. A secretária da<br />

defensoria sentou-se na poltrona, de costas para Marisa. Esta se sentou na cadeira diante<br />

da mesa de Alicia, a qual ficava de frente quando fazia as perguntas, ou de perfil quando<br />

registrava por escrito os ditos de Marisa no computador. Em diagonal à Marisa,<br />

estávamos Valeria e eu.<br />

Alicia começou o depoimento tomando os dados pessoais de Marisa. Já com a<br />

secretária da defensoria na sala, leu o “fato imputado”. Destacou o “abandono” que<br />

causara o estado de desnutrição, ocasionando a morte de Rodrigo e lesões graves a<br />

Sabrina, os dois bebês gêmeos. Mencionou também uma série de números de folhas do<br />

processo. Achei que fossem as constâncias médicas onde se acreditava a morte e as<br />

lesões, mas nada foi explicitado ao respeito.<br />

Alicia tinha esse estilo mais jurídico e formal na sua forma de conduzir os<br />

depoimentos. Mencionava termos técnicos, relatava os “fatos” tal como escritos no<br />

processo, citando números de folhas e provas técnicas. Valeria e Sebastián já tinham um<br />

estilo mais informal. Eles relatavam os fatos, não amarrados à leitura e quase nunca<br />

mencionavam termos técnicos. Enfim, priorizavam o diálogo e a conversa com o<br />

depoente, para, depois, fazer o registro escrito do depoimento. Alicia dizia que seu<br />

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