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Baixar - Proppi - UFF

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Mãe de Garza: sim, isso que queria que você soubesse, que se lhe gritam, ele<br />

reage. Os vizinhos adoram ele, porque não entendemos o que é que aconteceu.<br />

Os vizinhos nos ajudaram porque todos nos conhecem.<br />

Ser um “garoto de bairro”, ser “conhecido do bairro”, ser “querido no bairro”.<br />

Os vizinhos opinavam e comentavam sobre uma pessoa e sobre seu eventual<br />

envolvimento em um crime. Muitos desses comentários eram trazidos ao âmbito<br />

policial e judicial, em processos de investigação criminal. Podiam ser registrados por<br />

escrito ou ‘apenas’ ouvidos pelos funcionários. Em qualquer caso, isso era decisão dos<br />

funcionários e não dos depoentes. Nestes casos, para eles podiam ser argumentos de<br />

defesa de um filho ou um amigo. Um apoio (e afeto) coletivo a uma apreciação (e afeto)<br />

pessoal. Paralelamente a estes atos de defesa coletiva, deparei que o bairro e os vizinhos<br />

também podiam dizer coisas horrorosas dos envolvidos. Os mesmos argumentos, em<br />

um sentido contrário, entravam na roda.<br />

“Que no bairro se comenta...”<br />

Na minha apresentação na UFI, mostrei particular<br />

interesse por processos classificados como<br />

“homicídios”. Isso me rendeu, nos momentos vagos,<br />

que vários processos em andamento sobre esse<br />

crime, me fossem passados para ler. Como nos casos<br />

anteriores, também em outros, observava relações de<br />

proximidade entre os envolvidos. Podia ser proximidade geográfica ou social; em<br />

qualquer caso, “o bairro” era, não apenas o contexto em que aconteciam os fatos, mas o<br />

suporte de possíveis linhas de informação e investigação. Conhecer alguém do bairro<br />

era, como mínimo, ter maior facilidade para identificá-lo. E era também, como vimos,<br />

uma forma de opinar sobre alguém. Ao ler processos de “homicídio” também passei a<br />

entender por que, no primeiro encontro, Valeria teria dito que no verão as mortes<br />

aumentam, porque “os grupos de rapazes se juntam na rua a beber cerveja, bebem muito<br />

e acaba em algum problema”.<br />

“Esse aqui é um típico caso entre bandos”, disse Alicia me entregando outro<br />

processo de “homicídio”. Em 2004, um homem sem vida tinha sido encontrado com<br />

quatro tiros, no interior de um carro. A “vítima” era apelidada como o Barata. A<br />

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