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Baixar - Proppi - UFF

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A “identidade reservada”: o Topo<br />

A segunda linha de investigação abriu-se poucos dias depois. Marconi depôs que<br />

“uma pessoa que não quis aportar seus dados pessoais disse que o autor seria o Topo, de<br />

sobrenome López, que estaria preso na comisaría”. Outra testemunha, que pediu depor<br />

com “identidade reservada”, disse ter visto e ouvido o Topo dizer “aprontei uma, tirei<br />

essa moto de um cara que a entregou na boa, mas aí outro me bateu com uma garrafa de<br />

cerveja e tive que atirar e acertei na bunda do outro”.<br />

Naquele momento, o depoimento parecia abrir um caminho certeiro sobre o<br />

“autor”. A descrição daquela testemunha refletia uma seqüência de “fatos” aproximada<br />

àquela identificada para a noite do dia 30 de junho: o roubo da moto, a garrafada, o tiro<br />

nas nádegas, o dia e o horário coincidiam e, inclusive, a moto com a qual o Topo estava<br />

naquele dia era muito parecida daquela do Quique. Além disso, naquela noite não havia<br />

registro de outros roubos semelhantes na área, que pudessem implicar que o Topo<br />

estivesse se referindo a eles e não ao episódio de Quique e Santiago. Como disse<br />

Sebastián, “o testemunho da mulher com identidade reservada parecia fechar o caso,<br />

porque o que ela ouviu era de uma precisão assombrosa”. Contudo, havia uma única<br />

suspeita sobre aquele depoimento, impossível de detectar com a exclusiva leitura do<br />

processo. Foi Sebastián que contou sobre o assunto:<br />

A senhora tinha um filho com antecedentes. Justamente o Topo contou aquilo<br />

tudo para o filho da senhora e ela ouviu atrás da porta. Então, a suspeita era que<br />

a senhora quisesse desviar a investigação para que seu filho não ficasse<br />

envolvido, porque uma hipótese era então que poderia ter sido seu filho e ela<br />

queria tirá-lo do meio, mas, ao mesmo tempo, não havia nada que vinculasse o<br />

filho à investigação.<br />

Ou seja, o único que vinculava o filho da senhora aos “fatos” era aquela suspeita<br />

da mãe estar tentando proteger o filho e, por sua vez, o fato do filho ter antecedentes.<br />

Isto o transformava em um possível “suspeito” não só desse fato, mas também de outros<br />

que pudessem acontecer na área. Segundo Sebastián, a polícia tinha a prática comum de<br />

conduzir as investigações para os “suspeitos habituais”, ou seja, quem já estava<br />

“marcado” pela polícia. Isso podia conduzir a investigação para certas pessoas sobre as<br />

quais não recaíssem outras “provas”, ao tempo que podia desviá-la de pessoas que<br />

poderiam estar vinculadas aos “fatos”. A “suspeita” criada sobre o depoimento da<br />

senhora mostrava, a meu ver, como essas relações entre “suspeitos” e policiais também<br />

se teciam no âmbito do bairro: um garoto –Topo- teria contado a um amigo sobre o<br />

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