01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O bairro e o “público”<br />

Naquela primeira manhã do dia do<br />

juicio, enquanto esperávamos no<br />

térreo o início da audiência (e eu<br />

ser chamada para a sala de<br />

testemunhas) chegou a mãe de<br />

Dario e duas de suas irmãs, junto<br />

com outros familiares. Eles<br />

portavam, pendurado no pescoço,<br />

um cartaz com a foto de Dario,<br />

pedindo “Justiça” por ele, com a data em que foi morto e a idade na época, dezessete<br />

anos. Também chegaram três ou quatro advogados da associação civil do Luis e<br />

membros da associação Miguel Bru, sua presidenta entre eles, e alguns jornalistas. Em<br />

pouco tempo, o visual da frente do prédio mudou de aspecto. Foram colocadas três<br />

bandeiras que, em ordem, formavam as cores da bandeira argentina, com as inscrições<br />

“Justicia x Dario”, “Basta de Gatillo Fácil” e “Dario, a un año de tu asesinato te<br />

recordamos tu família y amigos... Justicia”,<br />

assinando o nome do bairro. O clima do juicio ia se<br />

caracterizando com aspectos dos rituais analisados<br />

por María Pita (2006), na sua etnografia sobre as<br />

formas de demanda de justiça de familiares de<br />

vítimas da violência policial. Os cartazes, as fotos, as<br />

bandeiras, a presença de outros familiares, de militantes de associações civis, como<br />

“tecnologias manifestantes” (2006:131) 32 , que expressam humilhação, repúdio e formas<br />

de resistência ao poder policial. Funcionavam, assim, como “ações coletivas que<br />

permitem os familiares marcar sua posição, reforçar sua figura e se expressar”, atuando<br />

e experimentando um confronto com o poder policial, ativando um sentido de<br />

resistência e, ao mesmo tempo, fortalecendo sua posição, autoridade e legitimidade<br />

32 Considerando o conceito de tecnologia de Michel Foucault, Pita (2006:131) define as “tecnologias<br />

manifestantes” como um conjunto de técnicas e práticas associadas que supõem um saber e um domínio<br />

sobre suas formas e forças em termos de efeitos produtivos. São, para Pita, tecnologias difusas já que não<br />

aparecem formuladas em termos discursivos de maneira organizada, nem contam com regras sistemáticas,<br />

mas são práticas, ações e rotinas que possibilitam, no caso dos “familiares”, “dramatizar o protesto e seus<br />

conteúdos específicos” (2006:131).<br />

52

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!