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Baixar - Proppi - UFF

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em como que conduziam informações no processo de investigação criminal. Essa<br />

percepção foi um dos aspectos que me orientou a pensar na administração de justiça<br />

enfatizando aquilo que a aproximava de certos grupos sociais e valores morais, mais do<br />

que focalizando aquilo que a distanciava como um saber esotérico e profissionalizado.<br />

Como relatei no Capítulo1, o “bairro” se fez presente no juicio de Dario. Com<br />

seus cartazes e suas fotos, um grupo de pessoas – familiares, vizinhos e pessoas<br />

vinculadas à associação que representava legalmente a família de Dario-, ocuparam,<br />

durante o juicio, um lugar restrito na sala de audiência. Esse lugar tinha sido préestabelecido<br />

e foi, durante a audiência, permanentemente controlado por policiais e<br />

funcionários do tribunal (o ingresso, a saída, os intervalos, as possíveis exclamações).<br />

Esse controle enfatizou a identidade desse grupo em oposição aos policiais<br />

“imputados”. Essa oposição também apareceu durante os depoimentos. Embora o<br />

“bairro” presente no público não tivesse tido participação no desenvolvimento formal<br />

do juicio, ele foi objeto dos depoimentos dos policiais. No discurso do policial Talarico,<br />

vizinho do “bairro”, dono da casa roubada, uma distinção foi estabelecida: o “bairro” e a<br />

“zona” marcavam, na visão dele, domínios sociais diferenciados, apesar de sua<br />

proximidade geográfica.<br />

Já no juicio contra Cacá, descrito no Capítulo 8, o “bairro” se fez presente de<br />

uma outra forma. Não sob a representação de um grupo organizado por uma “demanda<br />

de justiça” (Pita, 2006), que marcava uma oposição também em termos de ser ou não<br />

“vítima de abusos policiais”´, mas como um conjunto definido de pessoas com limites<br />

claros e com um objetivo explícito: “que se faça justiça” pela morte de Santiago. Esse<br />

sentimento colocava os representantes desse grupo em oposição a Cacá, acusado como<br />

único responsável daquela morte. Diferentemente do juicio de Dario, essa oposição<br />

entre o “bairro” de Santiago e Quique com Cacá e o grupo de familiares e amigos que o<br />

acompanharam se manifestou tanto no desenrolar formal da audiência como nos<br />

espaços destinados ao público (os assentos e o corredor). Durante a audiência, cada<br />

grupo teve reservado um dia para depor sobre as respectivas versões defendidas. O<br />

tratamento distinto com umas e outras testemunhas, em especial, por parte do tribunal,<br />

evidenciou claramente a maior credibilidade e legitimidade que o pessoal do “bairro”<br />

tinha alcançado com sua versão aos olhos da “justiça”. Ao mesmo tempo em que aquele<br />

tratamento desigual mostrava o descrédito outorgado às testemunhas vinculadas a Cacá<br />

e sua defesa, que bem poderiam ocupar uma “zona” na perspectiva do “bairro”.<br />

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