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Baixar - Proppi - UFF

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Tratava-se de Lorenzo, o vizinho de Sebastián que tinha atirado com uma<br />

escopeta contra o irmão da ex-namorada. Minutos antes Valeria tinha sido informada<br />

pela defensoria que Lorenzo não iria depor. No entanto, a conversa entre ambos, “extraoficialmente”,<br />

se estendeu por um bom tempo. Li parte dessa conversa para Valeria do<br />

meu caderno de campo quando ela quis lembrar o que ele teria dito em relação à<br />

escopeta, como contei no capítulo anterior. A conversa começou assim que Valeria leu,<br />

como indica a formalidade legal, o “fato imputado”.<br />

Valeria: no dia onze de novembro, às 7h50, no endereço Rua 16 número 20, do<br />

bairro Don Fermin 156 , efetuou um disparo contra Juan Dominguez com a<br />

intenção de matá-lo, não conseguindo seu objetivo porque saiu a irmã e o<br />

imputado deu atenção a ela...<br />

Lorenzo: isso não foi assim.<br />

Valeria: é o que surge do processo.<br />

Lorenzo: é o que eles dizem. É uma ex-namorada minha e eu não tive intenção<br />

de matar ninguém... [aí entra a conversa sobre a escopeta já contada páginas<br />

antes] (...). Como tudo aconteceu no bairro dela isso a favorece, por causa das<br />

testemunhas. Se tivesse acontecido na minha casa era melhor para mim. Lá há<br />

pessoas que me conhecem, que sabem que eu não sou uma pessoa que anda na<br />

rua.<br />

Valeria: mas não está sendo acusado de roubo, Lorenzo, você atirou contra uma<br />

pessoa. Embora isto aqui não seja um depoimento, mas uma conversa, eu sou a<br />

promotora e, além de tomar seu depoimento, tomarei também o depoimento das<br />

testemunhas.<br />

Lorenzo: depois eu vou ter um advogado?<br />

Valeria: você já tem um defensor.<br />

Lorenzo: mas me serve de que?! Ele me leu o que a senhora já tem por escrito.<br />

Se eu pagar para um, vai ser melhor [poucos dias depois Lorenzo designou um<br />

advogado particular]. Eu me meti em um problema, não sirvo para estar preso<br />

porque trabalho na rua, tenho três filhos, um com deficiência mental, outro com<br />

medicação. Eu lutei minha vida toda por minha família e, de repente, perdi.<br />

Estou arrependido. Nem posso reclamar da Justiça porque desde que estou aqui<br />

me trataram bem. A senhora acha que posso sair disto tudo? Vai ir a juicio?<br />

Valeria: seguramente. Se o garoto não morrer, ficaria como lesões graves e o<br />

senhor poderia ficar livre, mas não hoje. Eu tenho um mês para tomar os<br />

depoimentos e ver como está a coisa. Se o garoto morrer tudo complica mais.<br />

Lorenzo, com um tom notadamente mais agressivo: eu confiei no que você me<br />

disse. Ou seja que nem uma excarcelación?!<br />

Valeria: com sorte em um mês, mas não me mude as coisas porque você atirou<br />

contra um garoto de 16 anos, Lorenzo.<br />

Lorenzo: eu não quis matá-lo.<br />

Valeria: se isso fica demonstrado em um mês o senhor sai.<br />

Lorenzo: eu não mereço isto.<br />

Valeria: ninguém merece sofrer.<br />

156 Bairro constituído por blocos de conjuntos habitacionais.<br />

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