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Baixar - Proppi - UFF

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gosta de ter o relatório, porque se supõe que o processo tem uma finalidade<br />

educativa. Agora o que começou a acontecer é que a assessoria pericial está<br />

enviando cópia da perícia ao promotor, mas a perícia é nossa!! “Ah, mas nós<br />

somos do poder judicial e enviamos cópia a todos”, respondem. Então, o<br />

promotor lê a perícia, entendeu? E aí pronto: “foi o garoto”. (Entrevista com<br />

Dra. Marina Giver, defensora de menores, 13/05/09)<br />

Tanto nos relatos do advogado e da defensora, como no comentário que Valeria<br />

fazia da conversa com a psicóloga no caso de Marisa e Carlos, os relatórios das<br />

entrevistas psicológicas funcionavam como “provas” na medida em que ajudassem a<br />

elucidar uma hipótese de investigação. Caso a contrariassem, não eram considerados<br />

como “penalmente” relevantes. Embora a solicitação dos mesmos fosse um<br />

procedimento formalmente estabelecido e frequente, seu uso era aleatório, dependendo<br />

das “impressões” prévias dos profissionais judiciais, derivadas de outro tipo de “provas”<br />

e percepções. Parecia-me mais um caso em que o ‘fundo’ (hipótese de investigação)<br />

impunha-se diante da ‘forma’ (procedimento). As “provas” consideradas “penalmente”<br />

relevantes provinham de outras fontes. No caso de Marisa e Carlos, os depoimentos<br />

orais das testemunhas foram fundamentais na construção de uma versão sobre os<br />

“fatos”, ou melhor, sobre as responsabilidades pelo acontecido.<br />

“Soube pelos vizinhos...”<br />

No processo contra Marisa e Carlos, depuseram várias testemunhas: além do<br />

cunhado, a irmã e a vizinha já mencionados, também o fizeram, após o depoimento do<br />

casal, a cunhada – aquela que estava no dia do “allanamiento”-; uma amiga e vizinha de<br />

Marisa; a manzanera, sua filha e os profissionais que, em um momento ou outro,<br />

atenderam o caso a partir da prefeitura: a psicóloga, a assistente social e o médico do<br />

hospital que tratou os gêmeos. Através de todas estas testemunhas também foi possível<br />

‘ouvir’ a voz de uma figura que se repetia em todos os relatos: “os vizinhos”.<br />

Nos depoimentos já ouvidos, os “vizinhos” apareciam oferecendo ajuda, levando<br />

comida, dando roupas para as crianças. Também como fonte de informações sobre “o<br />

que acontecia” na casa. “Soube pelos vizinhos que...” foi uma frase bastante recorrente<br />

para dar conta de como os familiares souberam da internação dos gêmeos, da forma<br />

como Carlos trataria Marisa, de como Marisa lidaria com as crianças. Da perspectiva de<br />

Marisa, nesse sentido, os “vizinhos” e familiares também apareciam “bisbilhotando”,<br />

“se metendo”, opinando sobre sua vida e sobre “suas crianças”. Os depoimentos que se<br />

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