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Baixar - Proppi - UFF

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“Não são anjinhos, não”<br />

“Os presos aprontam mais com o defensor do que com o promotor, de tudo<br />

reclamam para nós; eles não são anjinhos não, são muito espertos. Você tem que ter<br />

cuidado, saber lidar com eles”, me disse o defensor Julio Sosa que, na época, ocupava o<br />

cargo de defensor de execução penal. Deu-me a impressão de saber do que falava. Ele<br />

estava em contato direto com os presos e havia mais de quinze anos trabalhava como<br />

defensor. Tinha um linguajar direto, sem o tom paternal que eu tinha percebido em<br />

outros defensores. Conversando com Sebastián sobre certas tendências ideológicas<br />

dentro do sistema, ele dizia que “muitos defensores não agüentam os imputados porque<br />

estes lhes demandam coisas o tempo todo e lhes reclamam de tudo. Diante do promotor<br />

eles são mais comportados, porque sabem que não é conveniente você não gostar<br />

deles”. Gostar ou não do “imputado” parecia um aspecto importante. A fala de<br />

Sebastián e a de Julio Sosa também pareciam mostrar uma atitude atenta, quando não<br />

desconfiada, por parte do “imputado”. Ao menos, sua fala e atitude não eram<br />

naturalizadas.<br />

Quando Rosendo Rodríguez decidiu reverter o conselho do defensor no processo<br />

por roubo iniciado junto com Mario Suarez, tinha claro aquilo que queria depor.<br />

Rosendo falou da implicância que, havia cinco anos, o policial que o prendeu tinha com<br />

ele. Devia-se a uma denúncia que Rosendo tinha iniciado contra o funcionário, quando<br />

cumpria condenação por um processo anterior. Na denúncia, declarava ter testemunhado<br />

os maus-tratos praticados pelo policial contra outros presos alojados com ele. Cinco<br />

anos depois, na UFI, afirmava não ter nada a ver com o “roubo”, mas ter sido preso<br />

apenas por vingança.<br />

Rosendo: eu estava na esquina com a moto do delivery e o policial me bateu e<br />

me fez entrar na viatura, onde já estava o outro [Mario Sánchez], que eu nem<br />

conheço.<br />

Chico: e aí o que é que aconteceu? Levaram você para a comisaría?<br />

Rosendo: sim, aí pedi para falar com o comisario porque eu estava nem que um<br />

mar de lágrimas. Ele perguntou o que me acontecia e eu disse para ele “o que é<br />

que vai me acontecer, chefe, estou tentando botar pilha em mim, me re-inserir na<br />

sociedade e por sair de testemunha há mais de cinco anos me acontece isto, o<br />

que é que minha mãe vai pensar?!”.<br />

Rosendo mostrou para Chico os papéis do processo anterior, no qual dizia ter<br />

conseguido a liberdade. Estavam dobradinhos em um saco de plástico azul, que afirmou<br />

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