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Baixar - Proppi - UFF

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âmbito de Tribunales, não era apenas direta ou cara a cara, mas também se dava a partir<br />

das opiniões dos outros, dos comentários, e, nesta dinâmica particular das relações na<br />

burocracia judicial, através do papel.<br />

Assim, quando ouvia os comentários por parte de promotores, advogados,<br />

defensores ou juízes, sobre outros funcionários, pensava que a reputação atribuída a um<br />

outro falava também da trama de relações de quem a expressava. Por isso, os<br />

comentários de um funcionário sobre outro podiam ser dos mais variados, infinitos e até<br />

ocultar histórias secretas. Mas, não eram os comentários individuais e íntimos os que<br />

construíam uma reputação. Eram apenas aqueles que, justamente por serem públicos e<br />

reconhecidos coletivamente, se assentavam no mapa social de Tribunales e permitiam<br />

fazer esse movimento de associação entre traços pessoais e estilos de trabalho. Fazer<br />

parte da trama de construção de reputações –como objeto e como sujeito- era sinal de<br />

pertença a esse coletivo de Tribunales. Era, como eles diziam, “ser do sistema”.<br />

Pelo contrário, não interagir, não conversar, não circular, era visto como uma<br />

qualidade negativa, pois, em última instância, negava as possibilidades de trocar<br />

informações que permitissem se orientar no trabalho. Assim, não entrar nessa trama de<br />

interações, através da qual se construíam as reputações, podia ser sancionado com uma<br />

falta de adequação às regras do campo. Era o caso de funcionários não muito dispostos a<br />

conversar com colegas, que não costumavam freqüentar os espaços de sociabilidade,<br />

nem vagar pelos corredores 101 e salas que não as necessárias para o desenvolvimento do<br />

trabalho. Isso porque, ao restringir sua circulação e, portanto, suas interações, também<br />

não trocavam informações sobre outros colegas e/ou sobre o papel desses colegas em<br />

certos casos 102 . Esse hermetismo ao tempo que tornava essas figuras menos<br />

101 O corredor, no prédio de Tribunales de Los Pantanos, pelo fato de sua estrutura reunir um conjunto de<br />

unidades (promotorias, defensorias ou tribunais), de partilhar uma copa comum e a mesma “Mesa de<br />

Entradas”, tem uma identidade particular. Por exemplo, há jogos de futebol ou contribuições de dinheiro<br />

que se organizam “por corredor”. Pela forma de circulação e distribuição, também é o âmbito que<br />

permite, quando um funcionário chega ao trabalho ou se dirige a outra unidade, passar obrigatoriamente<br />

pela porta das salas de outras repartições, ver e ser visto, cumprimentar (ou não), conversar (ou não).<br />

102 Bayley dá conta da complexidade das situações de uma mulher (dona de casa) se encontrar com outra<br />

no povo de Villoire nos Alpes franceses. Aponta que, encontrando alguém, as boas maneiras requerem<br />

parar e intercambiar, ao menos, algumas palavras. Porém, esta situação apresenta –diz Bayley- duas<br />

desvantagens: a primeira é que, se duas mulheres fossem vistas conversando, elas despertariam suspeitas<br />

de fofoca, malícia (mauvise langue) com o qual a reputação de cada uma delas sofreria prejuízos; a<br />

segunda, é que, como a maioria das pessoas tem algum vínculo pessoal, os encontros consomem muito<br />

tempo, e tentar encurtá-los, fazê-los mais breves, ou evitá-los, é rejeitado como sinal de que você<br />

considera seu interlocutor como inferior (1971:1-2). No contexto aqui tratado, os encontros e a<br />

consequente obrigação de interação podem ter um sinal inverso e apresentar outros desafios. Da mesma<br />

forma que em Villoire encontrar alguém e não conversar é visto negativamente, mas trocar informações e<br />

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