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Baixar - Proppi - UFF

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Promotor: deus nos livre e guarde!<br />

Defensora: desde quando um sexo do bom rende um anel de diamantes?<br />

Nenhuma mulher pode ouvir de um homem que é uma cachorra e ficar impune.<br />

Não justifica a atitude, mas traz a realidade. Foi o erro do homem investir no<br />

amor quando só queria sexo. Foi um acidente. Ela tem problemas? Tem, fazer o<br />

quê. Nem todos somos iguais, alguns são mais sensíveis do que outros. É essa a<br />

vida que temos que avaliar, que nos reunimos para julgar. (...) Se desejarem<br />

condenar porque é Geni, a cretina da história, é decisão de vocês. Só se joga<br />

pedra na Geni, alguns até gostam. Ele sabia como ela reagia, ele sabia que ela<br />

era doidinha. (...) Se não forem julgar Geni e julgarem a verdadeira Thais, a<br />

prova do processo autoriza a absolvição da ré.<br />

O promotor fez uso de seu direito a réplica. Enquanto ele falava, a defensora<br />

gritava “joga pedra na Geni, joga bosta na Geni”. Em alguns momentos ele continuava<br />

falando, em outros pedia para não ser interrompido. Os dois se gritavam mutuamente e<br />

expressavam em alta voz seus argumentos. À exceção de trechos que consideravam<br />

importantes serem ditos em um tom de voz baixo, mais íntimo. Quebravam esses<br />

poucos momentos, alçando a voz, impostando vozes, batendo as palmas na mesa.<br />

Gritavam-se um ao outro, negando a “razão” e a “coerência” dos argumentos<br />

esgrimidos pelo outro. No final, saíram abraçados e rindo conjuntamente da sala.<br />

O cenário dessas alegações exigia a todos os participantes, à exceção da ré e do<br />

público, estarem vestidos com togas pretas. O promotor, a defensora e o juiz, cobrindo o<br />

corpo inteiro. Diferenciavam-se entre si pela cor de uma faixa que prendia a toga na<br />

cintura. Vermelha o promotor; verde a defensora e preta o juiz 256 . Os jurados e outros<br />

serventuários vestiam, acima de suas roupas, pequenas becas que cobriam os ombros e<br />

se amarravam no pescoço. Os jurados ouviam em silêncio, sem gesticular. Apesar do<br />

promotor e da defensora se dirigirem a eles de forma próxima e direta, quase<br />

interpelando-los. Ambos mostravam trechos do processo e até os estendiam a eles para<br />

que os lessem. Caso quisessem, pois não se esperava dos jurados uma avaliação técnica<br />

256 O uso da toga no Tribunal do Júri do Rio é analisado por Luiz Figueira para o caso do juiz, como<br />

símbolo de imparcialidade (2007:78). No caso da França, o uso da toga também é analisado<br />

dedicadamente por Antoine Garapon (1999 - Capítulo 3). Destaca, em primeiro lugar, o fato do uso de<br />

toga ou de vestimentas semelhantes ter sido progressivamente abandonado por professores universitários,<br />

médicos e religiosos, à exceção de “magistrados e restantes membros da profissão judiciária (...) que<br />

continuam a usar quotidianamente a toga” (1999:73). Garapon propõe diversos significados para entender<br />

o uso judicial dessa vestimenta, na França: ter uma missão purificadora e protetora e destacar a instituição<br />

por sobre a pessoa (1999:86). Pensando no confronto encenado no júri entre promotor e defensora no caso<br />

relatado e em outras audiências também considerei interessante a interpretação de Garapon relativa à toga<br />

“autorizar a agressividade, evocando ao mesmo tempo a unidade para lá da discórdia (1999:88).<br />

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