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Baixar - Proppi - UFF

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um significado diferente, pois não se centra na sociabilidade dos jovens, mas nas formas<br />

de violência estatal:<br />

“A esquina era uma espécie de fora (da casa) dentro (do bairro), o local de<br />

encontro dos jovens desde o final da tarde até a noite, uma forma pouco custosa<br />

de sair com os amigos, um espaço de sociabilidade juvenil”. (Pita, 2006:64)<br />

Como ela narra nesse trabalho, em vários dos relatos dos casos de “violência<br />

policial”, as situações de morte, intimidação ou detenção policial ocorreram com jovens<br />

identificados como “rapazes de esquina” e/ou com jovens que, naquele momento,<br />

encontravam-se na “esquina” de seus bairros, ou de suas próprias ruas. Em todos estes<br />

relatos, a “esquina” dá conta de relações conflituosas com a polícia. Ao mesmo tempo<br />

em que é fruto de disputas com outros moradores do bairro, com os “vizinhos”. Como<br />

identifica Kessler, a sociabilidade da “esquina” está sujeita aos deslocamentos<br />

produzidos pelas reclamações e pressões dos “vizinhos”, através de diversas<br />

estratégias 242 .<br />

A “esquina” como um local de conflito no “bairro”, entre jovens, policiais e<br />

“vizinhos”, também podia ser percebida significativamente em outros casos de<br />

“homicídio” que conheci na UFI. Lembrei também daquela afirmação de Valeria no<br />

primeiro dia de minha vista. Ela associava o possível aumento de homicídios no verão<br />

com o fato das pessoas se “juntarem na rua a beber cerveja, beberem muito e acabarem<br />

em algum problema”. “Juntar-se com a galera na esquina”, “ser da galera da esquina”,<br />

“parar na esquina”, eram frases que faziam parte de atribuições de identidade que<br />

definiam perfis e demarcavam diferenças entre os moradores de um “bairro”. Cacá e<br />

seus amigos, assim como Dario e seus amigos, no caso de La Plata narrado no primeiro<br />

capítulo, bem como outros descritos no capítulo 5, “eram da esquina”. Quique,<br />

Santiago, Lucero, os “vizinhos”, eram do “bairro” e conheciam a “galera” porque ela<br />

“sempre parava aí”. Novamente, embora as distâncias geográficas entre a casa de Cacá<br />

e, sobretudo, a casa de sua namorada, fossem curtas em relação ao quiosque e às casas<br />

de Santiago e Quique, Cacá era identificado como alguém que “não era do bairro”, mas<br />

que “andava pelo bairro” e, por isso, era conhecido e, posteriormente, tinha podido ser<br />

identificado. Veremos, no capítulo seguinte, como este ponto podia ser central nas<br />

argumentações de defesa e de acusação de Cacá.<br />

242 Menciona Kessler colocar arame farpado, vidros, cercas metálicas, onde eles sentam, ou, inclusive,<br />

chamar a polícia (2004:226).<br />

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