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Baixar - Proppi - UFF

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“Sabe por que está aqui?”<br />

Logo no segundo dia do primeiro “turno” que acompanhei na UFI, Valeria me<br />

disse que ela achava que eu deveria ficar para o “pós-turno”. Essa categoria referia aos<br />

dias imediatamente posteriores ao “turno”. Segundo me explicou Valeria, era quando<br />

convocavam para depor as testemunhas dos casos ingressados durante o “turno”. Foi a<br />

partir dessa proposta–convite, que fiquei naquele “pós-turno” de setembro, nos dias<br />

posteriores até o novo “turno” com seu correspondente “pós-turno”, até fazer cinco<br />

meses de assistência intensiva à UFI. Sempre circulando de sala em sala, fiquei atenta à<br />

dinâmica dos depoimentos como um momento de interação que estranhei muito em<br />

relação àquele observado nas audiências de juicios orales. Uma das primeiras coisas<br />

que me chamou a atenção foi um papelzinho dobrado que algumas testemunhas<br />

entregavam ao funcionário, assim que chegavam.<br />

Por meio da presente se intera e notifica a/o Senhor/a que deverá comparecer no<br />

dia 14 de janeiro às 9h00 diante da Unidad Fiscal de Instrucción K, a cargo do<br />

Dr. Sebastián Vázquez do Departamento Judicial de Los Pantanos, sito na rua<br />

CN, a fim de prestar depoimento testemunhal na presente Investigação Penal<br />

Preparatória n. 20.006.07 caratulada 168 “Pablo Santana, Resistência à<br />

Autoridade, Pessoal Policial”. O/a Senhor/a fica legalmente notificado.<br />

Comisaría de Los Pantanos n.5. 02 de janeiro de 2008.<br />

Era o texto da citação escrita que recebiam as testemunhas no seu domicílio. De<br />

fato, a primeira pergunta formulada à testemunha era se sabia “o motivo de estar aí” ou<br />

se sabia “por que tinha sido citada?”. No caso aqui tomado para exemplificar o texto da<br />

citação, as pessoas citadas - os Santana- eram familiares do “imputado”, Pablo Santana,<br />

e tinham estado envolvidas na situação que levou Pablo à condição de “imputado”.<br />

Assim, diante da “apreensão” do Pablo, sabiam claramente o motivo pelo qual estavam<br />

na UFI. Uma situação semelhante acontecia com testemunhas que não eram familiares,<br />

mas que, de qualquer modo, associavam a citação com a situação que tinham visto,<br />

ouvido ou vivenciado, dias antes. Dificilmente eram citadas para depor na UFI<br />

testemunhas que não lembrassem sobre a situação, pois também não eram procuradas<br />

testemunhas totalmente ocasionais 169 .<br />

168 A carátula de um processo corresponde às informações constantes na capa: tipo de crime, nome do<br />

imputado e da vítima.<br />

169 O advogado Luis Real me chamou a atenção sobre isso em uma de nossas conversas. Dizia que o<br />

Ministério Público se vale das testemunhas que leva a polícia e que são aquelas que presenciaram os fatos<br />

e se aproximaram ao “local”. Mas, apontava, não são pensadas formas de convocar testemunhas a partir<br />

da identificação de rotinas. Por exemplo, alguém que todo dia, no mesmo horário, espera o ônibus no<br />

ponto em frente ao local do fato investigado.<br />

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