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Baixar - Proppi - UFF

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Para qualquer um dos dois pontos de partida, o defensor devia formar seu<br />

“convencimento” sobre a inocência ou não do “imputado” e, sobretudo, sobre o que ele<br />

lhe falava. Podia ter outros elementos; mas não muito além do que estava escrito no<br />

processo. Contrastando essas informações com sua percepção sobre o “defendido”,<br />

formava uma convicção necessária para tomar a decisão sobre o depoimento perante a<br />

promotoria. A experiência profissional era chave para formar essa percepção sobre o<br />

“defendido”. Ela fornecia os parâmetros de credibilidade, ou não, baseados em situações<br />

já vivenciadas. Por isso, além do pressuposto de início (acreditar, ou não, como ponto<br />

de partida), era, no contato e na conversa iniciais, que se formava a convicção a partir<br />

da qual construir uma “estratégia de defesa”. Marina Giver, a defensora de “menores”<br />

recém designada para o cargo, me contava que na defensoria eles se faziam uma idéia<br />

do que tinha acontecido a partir da leitura do “sumário policial” e, quando chamavam o<br />

menino para a “entrevista prévia”, lhe pediam para contar o que é que tinha acontecido.<br />

E... sim, eles mentem muito, são até fofos. Você está vendo na ata do<br />

procedimento - que devo admitir que mil vezes está armada e algum olho clínico<br />

deixa você ver alguns dados que com certeza são truchos-, mas há um momento<br />

que você diz “este rapazinho tem 16 anos e não sabe que eu há muito tempo que<br />

trabalho com processos criminais”, você é um adulto contra um adolescente e dá<br />

vontade de dizer “não faça perder meu tempo, estamos aqui por você, conte<br />

como foi, que vamos ajudar você, mas não me minta porque seus companheiros<br />

já nos contaram como foi e você está nos contando uma coisa que não fecha por<br />

lugar nenhum”. E eles insistem em sustentar o que dizem, então aí você: “e tal<br />

coisa por que é que aconteceu?”, “bom, isso eu não sei”. Mentem muito porque<br />

tem a inocência de adolescentes. Um nos disse que o fato da polícia perseguir ele<br />

lhe dá emoção. “Bom, eu peço para você não falar isso com o juiz!”. E outros<br />

não, outros dizem para você que foram eles e pronto. (Entrevista com Dra.<br />

Giver, 13/05/09)<br />

As atitudes dos “imputados”, perante seu defensor, podiam ser variadas; dizer<br />

logo que foram eles, dizer que eram inocentes, começar dizendo que eram inocentes e<br />

depois reconhecer que alguma coisa eles tiveram a ver com o fato “imputado”: “está o<br />

reticente e está aquele mais ou menos tratável que aceita, explica e conta”, me dizia uma<br />

defensora pública. Ao conversar sobre este ponto com diferentes defensores, parecia-me<br />

entender que eles ‘sabiam’ qual era a versão correta, mas que o ponto era chegar a um<br />

acordo comum com o “defendido”. A avaliação sobre a versão do “defendido” não era<br />

tanto para definir a participação dele “no fato”, mas para definir como ele ia se<br />

comportar durante o processo. Por um lado, porque pressupunha-se que a maioria<br />

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