01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

positivas ou negativas desses fatos, evidenciavam representações sobre o que acontecia<br />

na UFI e o que eu podia esperar disso.<br />

“É que aqui não passa nada”, disse uma vez Valeria. O que é que não passava?<br />

Ou melhor, o que é que passava que era considerado “nada”? A resposta descansava na<br />

rotina. “Nada” parecia ser, naquela apreciação, “nada diferente”. Havia<br />

aproximadamente vinte anos que Valeria e Sebastián iam todos os dias no horário da<br />

manhã, ao mesmo prédio, e havia seis anos que trabalhavam juntos nas mesmas salas da<br />

mesma UFI. Assistiam mudanças de pessoal e alterações em certos procedimentos, mas<br />

as atividades desempenhadas, o raio de atuação –“aqui já vim a outro homicídio”,<br />

“neste bairro foi o caso de extorsão”- não diferiam muito dia após dia. Mesmo o “turno”<br />

acabava tendo uma sistemática repetição de procedimentos. Isso não queria dizer que<br />

não gostassem e até se apaixonassem pelo que faziam. Mas, de alguma forma, explicava<br />

esse sabor diferencial de ir no “local dos fatos”, ou de ter casos que por suas<br />

características representassem um desafio. Ao tempo que explicava, pelo menos em<br />

parte, porque o que passava, embora rodeado de “mortes”, “cadáveres e autopsias”,<br />

“prisões”, “tiros e armas” e outras circunstâncias e imagens não necessariamente<br />

comuns à vida fora de Tribunales, era considerado “nada”.<br />

Um dia conversava estas questões com Valeria. Comentei com ela que minha<br />

percepção era um pouco diferente, porque, se bem era verdade que o que faziam ou<br />

como o faziam não variava muito, as histórias com as quais tratavam eram diferentes. A<br />

“forma” (os passos, os procedimentos) podia ser a mesma, mas o “conteúdo” (os casos)<br />

era diverso. Valeria pareceu passar a olhar as coisas de uma forma diferente e me disse:<br />

“pois é, realmente do que eu gosto é do contato com as pessoas”.<br />

Uma figura, várias visões<br />

Um dia, durante uma conversa das tantas que mantive com uma mediadora, ela<br />

me mostrou uma série de imagens que costumava usar nos cursos de mediação com<br />

seus alunos, predominantemente advogados e psicólogos. As imagens eram desenhos<br />

que continham duas figuras. Se o olhar recaísse sobre um fundo da imagem, poderia ser<br />

visualizada uma figura – uma jovem, um jovem olhando para trás, uma jovem lendo<br />

uma carta. Se fosse priorizada outra forma, a figura enxergada seria outra – uma velha,<br />

um velho, um senhor com cavanhaque, respectivamente às outras figuras.<br />

14

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!