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Baixar - Proppi - UFF

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(Pita, 2006:131). Ao mesmo tempo, em especial as fotos de Dario, pareciam-me<br />

funcionar, não apenas como uma ação coletiva, mas como a personalização do conflito,<br />

nos termos do “bairro”. Quero dizer: o rosto de Dario tirava do anonimato a vítima do<br />

“homicídio” que todos davam por provado e condenado. Era uma forma de marcar que,<br />

para o “bairro”, o que estava sendo julgado não era, ou não era apenas, o não<br />

cumprimento de formas legais, procedimentos ou competências, mas a morte de um<br />

jovem, com uma história, com uma família, com amigos, com um “bairro” que<br />

lembrava dele e por ele pedia “justiça”. Um jovem com um rosto; oculto, na audiência,<br />

nos depoimentos policiais, nos discursos dos advogados e nas formalidades do tribunal,<br />

mas publicizado nas imagens do público. Com as fotos, com sua presença, com seus<br />

cartazes, o “bairro” falava e impunha sua versão dos fatos.<br />

A organização, por parte do pessoal policial e do Tribunal, para o ingresso do<br />

“público” à sala de audiência teve passos específicos que não tinha observado em outros<br />

juicios, inclusive nesse tipo de casos. Todos os dias do juicio, previamente ao início da<br />

audiência –em nenhum dos dias começou no horário-, um policial solicitava todas as<br />

carteiras de identidade das pessoas que iriam passar como “público”. Colhia as mesmas<br />

e, no momento de ingressar, chamava, por nome e sobrenome, a cada uma delas.<br />

Atravessávamos uma porta que permanecia fechada e depois outra onde aguardava um<br />

policial homem e uma policial mulher para revistar homens e mulheres,<br />

respectivamente, que fossem ingressando. Primeiro passavam um detector de metais por<br />

cima das roupas e depois revistavam as bolsas ou mochilas. Uma vez garantido que não<br />

portássemos elementos “de risco”, nos entregavam novamente a carteira de identidade e<br />

outro policial ou funcionário do Tribunal nos acompanhava até a porta da sala, a mesma<br />

pela qual eu tinha ingressado como testemunha. Dentro da sala nos era indicada<br />

especificamente a cadeira que devíamos ocupar, dentre daquelas destinadas ao<br />

“público”.<br />

As cadeiras do “público” estavam divididas em dois blocos, separadas pelo<br />

corredor por onde passavam as testemunhas. Do bloco mais próximo à porta, éramos<br />

localizadas as pessoas identificadas com a família de Dario, embora ninguém<br />

perguntasse nada sobre quem éramos ou pelo motivo de nossa presença. Do outro lado,<br />

os familiares dos acusados. Ambos os lados coincidiam com as posições da acusação<br />

(promotor e assistente da acusação) e da defesa (os seis acusados e os cinco defensores)<br />

na distribuição da sala. Foi notória, durante todos os dias do juicio, a diferença na<br />

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