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Baixar - Proppi - UFF

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partir dos seus anos de experiência como promotor. Para ele, não era estranho que<br />

“aqueles jovens matassem alguém e ficassem bebendo cerveja na esquina”. Ele sabia<br />

que Cacá tinha processos “de menor”; sabia também que era “suspeito” no homicídio da<br />

anciã alemã que ele mesmo investigava; sabia que seu irmão estava preso; sabia que os<br />

vizinhos do quiosque o consideravam um jovem problemático. Mas, para além do que<br />

Sebastián “sabia”, os dois grupos estavam se mobilizando, defendendo e construindo<br />

suas próprias versões dos “fatos” e dos perfis de um grupo, de um bairro, de uma<br />

pessoa.<br />

Enquanto estes depoimentos eram registrados e ingressavam no processo<br />

judicial, Marconi e seu colega continuavam buscando Raúl Lucero. Mas Lucero não<br />

aparecia… Os policiais tinham deixado uma citação na casa de um tal Raúl Lucero, mas<br />

não tinham certeza de que fosse a mesma pessoa, pois no dia da convocação ninguém<br />

tinha se apresentado na UFI. Por minha parte, começava a me intrigar quem seria aquela<br />

pessoa que não aparecia, que os amigos de Cacá diziam não conhecer, nem poder<br />

reconhecer, mas que Cacá afirmava que tinha estado junto com ele naquele dia.<br />

Sebastián dizia que “as fichas estavam se acabando” e que “aquilo que restava era<br />

aquele ‘mataram Cacá’ e com muita sorte que aparecesse a moto [roubada a Quique]”.<br />

A “reconstituição dos fatos”: ver e conversar<br />

No dia 10 de outubro, uma quarta-feira às seis da tarde, nas ruas onde tinha<br />

acontecido o “fato”, acompanhei Sebastián e Diego a um procedimento denominado<br />

“reconstituição do fato”. Também estiveram presentes Marconi e Martínez, mais outros<br />

dois policiais da mesma Divisão, e Claudio, o fotógrafo do Ministério Público, a quem<br />

voltaria a encontrar no “allanamiento” da casa de Marisa e Carlos. O procedimento<br />

consistiu na reconstrução da seqüência dos “fatos” do processo, através da dramatização<br />

dos policiais das posições de Quique, Santiago e os dois jovens autores do “roubo” da<br />

moto. Cada passo foi fotografado por Claudio e, posteriormente, registrado em uma ata<br />

escrita. A seqüência foi sendo “reconstituída” a partir do relato de Quique, presente<br />

naquele dia, e de algumas orientações e perguntas de Sebastián. As ruas que limitavam a<br />

quadra do quiosque foram fechadas com dois carros não caracterizados dos policiais da<br />

Divisão.<br />

De forma diferente aos depoimentos orais, este ato judicial parecia produzir uma<br />

“prova” onde o visual e o espacial, mais do que o relato, adquiriam predomínio. Aquela<br />

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