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Baixar - Proppi - UFF

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dos disparos. Essas e outras circunstâncias foram mencionadas como as “provas” que a<br />

acusação alçava contra Cacá. Eram as chamadas “provas de carga”.<br />

Frente a elas, apresentava-se o relato de Cacá no seu depoimento. A “prova”<br />

produzida pela defesa do “imputado” foi analisada à luz da acusação já levantada. Em<br />

primeiro lugar, foi ressaltado o fato da defesa oficial não ter fornecido os endereços das<br />

testemunhas mencionadas por Cacá, sendo a mesma UFI quem, através dos registros<br />

informatizados, teria conseguido localizá-las. Com esta menção, intencionalmente ou<br />

não, Sebastián expunha para a juíza o fato daquelas testemunhas terem antecedentes<br />

penais e, por isso, estarem registradas no sistema informático. Também foi destacado o<br />

fato de um dos endereços não aportados ter sido o de Raúl Lucero, testemunha chave na<br />

versão de Cacá. Especial dedicação mereceu, na solicitação, a valoração dos<br />

depoimentos dos “amigos de Cacá”.<br />

“(...) o álibi de Cacá, quanto a ter estado entre as 21 e as 22 horas daquele dia na<br />

esquina de sua casa, não tem sustento nenhum. As testemunhas relatam uma<br />

reunião quase habitual, quase diária, ocorrida há quatro meses (...). Realmente a<br />

memória seletiva surpreende, sendo que apenas lembram que estiveram com ele<br />

entre as 21 e as 22 horas. Isso não obedece a uma mendacidade manifesta, mas<br />

somente a forçar lembrar um dia, como tantos outros em que se reuniam sem um<br />

horário muito concreto a beber cerveja”. (Da solicitação de prisão preventiva de<br />

Cacá)<br />

Não era esta uma valoração como qualquer outra, que pudesse apenas desmentir<br />

a credibilidade de um “álibi” por uma contradição, falta de memória ou incapacidade de<br />

identificar um dia em lugar do outro. Ela também reforçava um perfil do “imputado” e<br />

“suas testemunhas”, ao definir um tipo de sociabilidade comum e freqüente entre eles:<br />

as “reuniões na esquina”. Como vimos ao longo dos depoimentos de Cacá e de seus<br />

amigos, essas reuniões, seus horários e as companhias freqüentes foram objeto de<br />

perguntas, bem como do contraste marcado com aqueles que, como Lucero, não as<br />

freqüentavam. Embora essas “reuniões” não tivessem uma associação direta com a<br />

acusação de Cacá como “autor do fato”, elas construíam um perfil social condutor de tal<br />

hipótese. Não só porque não permitissem definir horários certeiros para um álibi, mas<br />

porque, como vimos que dizia Sebastián, “não é estranho que aqueles jovens matem<br />

alguém e fiquem bebendo cerveja na esquina”. A “esquina” representava, no universo<br />

das investigações seguidas na UFI, e no conurbano de forma geral, um lugar de<br />

significação sociológica e social relevante.<br />

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