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Baixar - Proppi - UFF

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quis representar a situação. Valeria pediu para eles não se olharem entre si, “você sabe<br />

que não é permitido”. “Claro, Doutora, eu apenas queria colaborar”. “Sim, mas não<br />

colabore”, replicou Valeria, enquanto ela e Sánchez faziam suas próprias representações<br />

corporais. Chegou a oportunidade do advogado propor suas perguntas, mas nada disse.<br />

Quando foram embora, Valeria disse que nem entendia o motivo dele ter deposto.<br />

No depoimento anterior estava todo molinho, agora veio pedante demais. Para<br />

mim, o depoimento não mudou nada, eu já estou convencida. Os dois garotos<br />

que Sánchez botou como testemunhas dizem que ele se aproximou sozinho ao<br />

corpo, que não viram arma nenhuma e que conhecem o garoto do bairro e que<br />

não era de roubar. E isso aí de dizer que a arma do garoto saiu com uma mola e<br />

rebotou no chão é muito engraçado, por isso eu botei na ata.<br />

Quando, naquele dia, Valeria chegou ao “local do fato”, tomou o depoimento<br />

testemunhal de Sánchez. Em principio, era um ato não permitido, pois, como<br />

testemunha, era obrigado a dizer a verdade e, pelas circunstâncias do caso, era bem<br />

provável que acabasse como “imputado”. Ela me explicou que, por essas razões, não<br />

poderia utilizar formalmente esse primeiro depoimento de Sánchez, que, aliás, se<br />

contradizia, segundo ela, com aquele que acabava de fazer. “Por mais que a testemunha<br />

lhe gere convicção, você não a poder usar”. Ao igual que nos ditos extra-oficiais de<br />

Lorenzo, ‘ouvir’ não era o mesmo que ‘depor’. Contudo, o que era ‘ouvido’, embora<br />

não ‘deposto’, “gerava convicção”.<br />

Nesse mesmo dia, Valeria fez duas ligações: uma para outro promotor que<br />

levava um processo quase idêntico contra Sánchez e outra para a mãe do garoto morto.<br />

Ela esperava ansiosa ter novidades sobre o depoimento e Valeria tinha prometido ligar.<br />

Dias depois soube que os dois jovens que intervieram como testemunhas conheciam<br />

Sánchez previamente, porque fazia vigilância no bairro e porque tinha sido namorado da<br />

mãe de um deles.<br />

O depoimento do “308” parecia seguir um procedimento padrão. Parte estava<br />

pautado pela lei, parte pela rotina incorporada na UFI. Tomavam-se os dados pessoais,<br />

lia-se o fato imputado, explicava-se a situação futura do “imputado” (a pergunta mais<br />

recorrente dos “imputados” era sobre se ficariam presos e quanto tempo), imprimia-se a<br />

ata, a mesma era lida pelo “imputado” e, finalmente, procedia-se a sua assinatura.<br />

Mesmo com essa padronização, era possível observar diferentes estilos de trabalho, que<br />

influenciavam nas decisões tomadas. Circular por todas as salas da UFI para observar as<br />

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