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Baixar - Proppi - UFF

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Tanto durante os depoimentos, como desde o lugar do público, o “bairro” teve<br />

um espaço dominante na “expressão obrigatória e ritual de sentimentos”, sem o<br />

controle, nem a supervisão exercida no juicio de Dario. Ao “bairro” de Santiago e<br />

Quique foram destinadas as primeiras fileiras de assentos – “para as pessoas”.<br />

Familiares e vizinhos choraram, insultaram e “se quebraram” de emoção durante a<br />

audiência, a partir do público ou da cadeira de depoimentos. Levaram à audiência,<br />

diante do tribunal, do promotor e do advogado, suas lembranças sobre a vida de<br />

Santiago e sobre sua personalidade alegre e trabalhadora. Também seu conhecimento do<br />

“bairro” sobre a atitude “problemática” de Cacá. Este foi por eles assinalado como o<br />

“autor” dos disparos. E, assim, consolidaram as “provas” que permitiriam ao promotor<br />

acusá-lo pelos “fatos” julgados e ao tribunal condená-lo pela pena máxima de “prisão<br />

perpétua”.<br />

Esse processo, entretanto, não nasceu na audiência de juicio. Como demonstrei<br />

no Capítulo 7, a investigação desenvolvida no âmbito do UFI envolveu a participação<br />

do “bairro” na produção de informações e de “provas”. Os primeiros sinais na<br />

investigação foram aportados por “vizinhos”. Conversando com Marconi nas ruas do<br />

“bairro”, estes aportaram informações que indicaram, sucessivamente, diversos<br />

“suspeitos”. Alguns desses “vizinhos” depuseram presencialmente na sede da polícia e,<br />

posteriormente, na UFI. Outros o fizeram com “identidade reservada” e outros, também<br />

de forma anônima, através do testemunho indireto de outros “vizinhos” (a dona do<br />

quiosque, por exemplo). Estes últimos retransmitiram para a polícia e para a promotoria<br />

aquilo que “outro vizinho disse” ou aquilo que “o bairro comenta”. Essas diferentes<br />

estratégias possibilitaram que todos os testemunhos dos “vizinhos” fossem<br />

incorporados, embora pudessem ter diferentes avaliações por parte dos agentes.<br />

Como vimos, os depoimentos diretos de Quique, da dona do quiosque e de sua<br />

filha foram considerados como “responsáveis” e “comprometidos com a investigação”.<br />

As testemunhas de “identidade reservada” já resultavam em um grau de incerteza maior<br />

na sua força de prova (no caso da criança, revertida contundentemente na sala de<br />

audiência quando depôs identificada, virando o depoimento mais certeiro de todos). As<br />

informações aportadas por “vizinhos” cujos testemunhos eram repassados por outros<br />

(“há um vizinho que sabia tudo, mas que não vem nem maluco”) tiveram que passar por<br />

um processo de ‘formatação judicial’ para serem incorporadas como “provas”. Em<br />

qualquer caso, a partir daquilo que “se comentava no bairro” ou daquilo que “o bairro<br />

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