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Baixar - Proppi - UFF

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Dona Santana: meu filho quando bebe fica assim, ele bebeu sidra com um<br />

vizinho e depois quando voltou me pediu a sidra da geladeira e eu lhe disse que<br />

não, que fosse dormir… aí veio meu marido e Pablo atirou a bola contra ele e<br />

chamamos a polícia. Ele saiu para o frente da casa e disse que os ia enfrentar.<br />

Pedro: e seu marido estava fora?<br />

Dona Santana: todos estávamos fora, os vizinhos, era um formigueiro, mas se o<br />

senhor perguntar, ninguém viu nada.<br />

Pedro: quando chegou a viatura, o que é que aconteceu?<br />

Dona Santana: meu filho disse para o policial: “eu não sou seu amigo!”. E lhe<br />

deu uma cabeçada e aí o policial lhe disse “aqui você se faz de machinho, mas<br />

nós não somos sua família” e aí o policial caiu encima do meu filho.<br />

Pedro: a senhora viu isso tudo?<br />

Dona Santana: não, foi o policial que me disse, porque quando fico nervosa eu<br />

não vejo nada e fui para dentro.<br />

Pedro: a senhora tem que me contar o que a senhora viu e ouviu.<br />

Dona Santana: ele é quem mais trabalho me dá. Os outros [filhos] se juntaram e<br />

foram embora. Eu já estou tão cansada.<br />

Depois de passados dois ou três dias desde que comecei a acompanhar o caso,<br />

todos os depoimentos tinham sido tomados por Pedro. “Esses processos são os piores -<br />

disse Pedro - porque parecem bobagem e depois é complicadíssimo. Aqui eu teria dois<br />

fatos: maus tratos dos policiais ou falsa denúncia, porque alguém está mentindo. O certo<br />

é que há um conflito familiar grosso” 179 . Perguntei pelo depoimento da irmã que era o<br />

único que não tinha conseguido acompanhar pessoalmente. Pedro me disse que ela<br />

defendeu Pablo o tempo todo. “Cada um diz uma coisa diferente, na única que eu<br />

acreditei foi na mãe”. Perguntei por que: “não sei, é uma sensação, a mulher dele veio<br />

com medo e o cara [Pablo] a estava esperando fora”. A “sensação” de Pedro podia se<br />

relacionar com vários aspectos. Por minha parte, enquanto peguei o processo para lê-lo<br />

completo, fiquei pensando que a mãe tinha sido a única em se manifestar cansada pelo<br />

temperamento agressivo do filho e reconhecer as dificuldades para lidar com ele.<br />

Contudo, era quem menos tinha visto e ouvido diretamente sobre os “fatos” [a<br />

“resistência à autoridade”]. “Quando fico nervosa não vejo nada”, disse para Pedro. O<br />

resto tinha presenciado a seqüência de fatos, desde diferentes pontos de vista. Como<br />

disse Pedro, as falas de uns e outros diferiam em alguns pontos. Por isso, a interpretação<br />

do próprio Pedro era que alguém estava mentindo. “O processo dos mentirosos” foi a<br />

forma mais fácil, para ele, de identificar o caso.<br />

179 Contou de um caso de quando trabalhava em outra UFI. Em todos os “turnos”, um velhinho<br />

denunciava os vizinhos por ameaças, dizia que jogavam merda contra ele e na casa. Um dia Pedro vê que<br />

o velhinho aparece algemado. Tinha matado o vizinho.<br />

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