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Baixar - Proppi - UFF

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pessoal com os “imputados”, enquanto o pai expressava sua angústia pela perda da<br />

mulher. Naquele mesmo dia, após a audiência, conversei com os três juízes do tribunal<br />

que estavam reunidos na sala do presidente. Criticaram proficuamente a defensora por<br />

“fazer perguntas que não tinham a ver com os fatos”. O presidente reconhecia ter se<br />

impacientado com ela, porque opinava se tratar apenas de uma estratégia para<br />

desacreditar a testemunha. O presidente também estava incomodado com a atitude que<br />

“teve” que manter durante o juicio.<br />

Hoje eu tive que estar com os olhos em todos os lados, porque, no público, eu<br />

via que estavam os filhos chorando e vendo que moviam os lábios xingando e<br />

dizendo que os iam matar; estava o imputado que virava a cara rindo e ainda em<br />

um momento vejo que a imputada passa alguma coisa para o imputado por baixo<br />

da mesa. Aí parei a audiência para que os revistassem. Era um anel, mas poderia<br />

ter sido qualquer outra coisa, droga, sei lá.<br />

Desde sua posição, os juízes eram os únicos que podiam ter acesso a tudo o que<br />

acontecesse na sala. No dia das alegações finais, os “imputados” expressaram suas<br />

últimas palavras no juicio. Ambos disseram ser “inocentes”. O jovem acrescentou que<br />

se colocava no lugar da família, porque “não gostaria que matassem minha mãe ou<br />

minha avó”. A sentença do tribunal, o mesmo que julgara Cacá, foi condenatória para<br />

ambos; vinte anos de prisão para a moça e vinte e um para o jovem.<br />

Uma vez anunciada a sentença, o pai queria ir embora, mas o filho quis esperar<br />

para se retirar da sala: “quero ver a cara deles”. Ao sair, o pai falou para a policial que<br />

custodiava a porta: “eles mataram minha mulher” e chorou mais uma vez. Em outros<br />

juicios, também tinha observado a leitura da sentença provocar reações fortes por parte<br />

dos presentes, geralmente familiares da vítima 264 . Ao tempo que era uma instância<br />

prevista, estava carregada de expectativas que podiam condensar os anos de espera por<br />

“justiça” e o investimento realizado com esse fim. Assim, esses momentos de leitura das<br />

sentenças pareceram-me interessantes justamente por marcarem o contraste entre a<br />

solenidade e formalidade do tribunal e a manifestação de sentimentos por parte do<br />

“público” – testemunhas, vítimas, familiares, vizinhos- e, eventualmente, dos<br />

264 Lembro de um juicio em outro departamento judicial do conurbano contra um jovem acusado de<br />

estuprar uma menina. O “fato” era de outubro 2003 e o juicio estava acontecendo em agosto de 2007. No<br />

dia da leitura da sentença, entre o “público”, estava apenas eu e a mãe da menina. O veredicto foi<br />

condenatório, impondo doze anos de prisão para o “imputado”. Imediatamente, a mãe pulou de seu<br />

assento, gritando e xingando os juízes pelo que ela considerava uma pena baixa. A senhora, com o rosto<br />

vermelho de raiva, movia-se com força e insultava alternadamente o “imputado” e o tribunal. Cinco<br />

policiais presentes tiveram que contê-la com significativo esforço por parte deles. No dia seguinte,<br />

comentando com um dos policiais presentes, ele me disse que a mãe tinha sido quem, durante oito meses,<br />

tinha levado nas costas a investigação, procurando e encontrando o “imputado”.<br />

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