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Baixar - Proppi - UFF

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informações sobre o perfil do envolvido, sua família, seus hábitos e seus<br />

relacionamentos, permitiam contextualizar o “fato” e os depoimentos sobre ele vertidos.<br />

Sobre essas informações, não só os familiares podiam depor. Também pessoas<br />

próximas, sem vínculo de parentesco. Dona Clara foi depor no “caso dos catadores de<br />

papelão”. Era alguém que conhecia Martin Silva desde pequeno, por morar no bairro<br />

“desde que o mesmo tinha sido construído”. Seu depoimento, bem como a carta da<br />

Associação “O amanhecer dos catadores de papelão”, eram opiniões próximas e<br />

pessoais, mas não necessariamente vistas como “influenciáveis” aos olhos de Valeria,<br />

pois mantinham uma certa distância pessoal. Da mesma forma, Valeria percebeu no<br />

depoimento dos policiais que intervieram no procedimento certa insegurança e confusão<br />

na seqüência do relato sobre o acontecido. Conhecia um deles de uma denúncia anterior<br />

por maus tratos na comisaría onde se desempenhava, onde ela mesma tinha encontrado<br />

em uma sala da dependência os paus que teriam deixado marcas nas costas do preso.<br />

Não era um conhecimento que favorecesse a credibilidade da testemunha.<br />

Diferentemente, o policial que prestou apoio aos outros dois lhe pareceu estar “mais<br />

seguro” no seu depoimento e disse ter “acreditado nele”. Por isso, as dúvidas surgiram<br />

na avaliação de Valeria, pois o testemunho dele e de Dona Clara, os únicos nos quais<br />

Valeria disse “acreditar” – nos outros “não terminava de acreditar”- eram contraditórios<br />

entre si.<br />

Ao serem os depoimentos contrastados com outros depoimentos a valoração de<br />

um baseava-se na credibilidade de outro e na compatibilidade, ou não, de versões. Não<br />

havia um mecanismo certo que permitisse desempatar as dúvidas. A acareação entre<br />

testemunhas estava prevista pela lei, mas raramente soube que fosse usada (não o foi<br />

durante meu trabalho em nenhum caso). Advertir a testemunha que estava sob<br />

juramento –como foi advertida Dona Clara por Alicia- era uma estratégia para dar força<br />

ao depoimento. Alicia comentou que estava trabalhando outro processo iniciado pela<br />

denúncia de vizinhos que tinham ouvido um tiroteio. O “imputado” tinha se negado a<br />

depor, mas tinha dito “extra-oficialmente” para Alicia que a polícia tinha “plantado”<br />

uma arma para ele. Diante da contradição entre os testemunhos, Alicia me disse: “Vou<br />

chamar os vizinhos e ver quem disse a verdade”. Pareceu-me que não esperava que as<br />

testemunhas ou o “imputado” dissessem a verdade, mas confiava em poder perceber<br />

qual era a versão que, para ela, resultava na “verdade”. Outros elementos do processo; a<br />

relação social do depoente com os envolvidos no processo; a forma de depor e de<br />

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