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Baixar - Proppi - UFF

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visão dele, reconhecê-lo. Fazia parte de uma expressão obrigatória de sentimentos,<br />

diante das manifestações emocionais dos familiares e vizinhos nos seus depoimentos.<br />

Entretanto, a ânsia, ou necessidade, de justiça, segundo ele, teriam indicado, entre as<br />

pessoas possíveis (aliás, também do “bairro”: Topo, Jesus), o “autor errado”. A partir<br />

desse ponto, questionou também os “reconhecimentos” realizados na sala de audiência.<br />

Quanto ao reconhecimento realizado aqui na audiência, com o máximo de<br />

respeito pelo excelentíssimo tribunal e estando previsto no código, eu acho que<br />

até o menino de dez anos sabe que o imputado é aquele que está sentado do lado<br />

do defensor. Então, não há coisas muito claras, o que me leva a solicitar<br />

formalmente a absolvição de meu cliente. (...) Considero pelas provas aportadas<br />

em autos e considerando as contradições existentes, que, sim, existiram<br />

contradições de ambas as partes, não acho que, nem de uma parte, nem da outra,<br />

por malícia, mas possivelmente por serem coisas que têm acontecido há muito<br />

tempo, não ficam claro, mas que colocam o benefício da dúvida a favor de meu<br />

cliente, o que o promotor assim não entende. O senhor promotor, em todo seu<br />

direito, está solicitando a pena máxima. Estamos falando de prisão perpétua para<br />

alguém que, no humilde entender desta defesa, não estou totalmente convencido<br />

de que tenha a ver. (Da alegação do advogado de Cacá)<br />

A forma de exposição do advogado era confusa e errática. Pequenos dados<br />

estavam errados (nome de testemunhas, a idade do menino). As frases não se<br />

terminavam nem articulavam completamente umas com outras. “Não estou totalmente<br />

convencido”, disse. Parecia-lhe faltar um tom definitivo, enfático, que pudesse se<br />

contrapor à certeza do promotor ao solicitar, sem hesitação, a pena máxima. O tribunal<br />

deu a palavra a Cacá. Era o momento ritual final de toda audiência. No juicio de Dario,<br />

os policiais não tinham utilizado esse direito a se manifestar. Cacá quis dizer umas<br />

palavras finais.<br />

Sim, nada, que sou inocente e me estão acusando de uma coisa que eu não fui,<br />

me conhecem do bairro, tudo, eu não faço nem idéia de por que, até o dia de<br />

hoje eu não consigo entender. Eu tenho a consciência tranqüila de que sou<br />

inocente. Nunca matei ninguém, nem cometi lesão nenhuma. Só isso, senhor<br />

presidente.<br />

Com suas palavras finais, Cacá enfatizava os argumentos do advogado. Sua<br />

inocência e seu pertencimento ao “bairro”. Caberia aos juízes decidirem sobre ambos os<br />

argumentos. Eles marcaram a “leitura da sentença” para a semana seguinte. Anunciaram<br />

sua retirada e pediram “coordenação na saída do público: primeiro sai a última fileira e<br />

depois aquelas da frente, para evitar qualquer tipo de conflito”.<br />

Seis dias depois, o tribunal decidiu pela “prisão perpétua” de Cacá, tal como<br />

solicitado pelo promotor. A sentença foi informada “por secretaria”. Quer dizer, não foi<br />

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