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Baixar - Proppi - UFF

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saber os nomes deles. Eu tinha bem claro em minha memória as poucas quadras que<br />

tinha andado com a cunhada da casa de Marisa até a casa dela. Novamente, a noção do<br />

“vizinho” não coincidia com critérios de distância geográfica e, pelo menos neste caso,<br />

parecia implicar uma proximidade ainda maior do que “morar no mesmo bairro”, ou “há<br />

umas poucas quadras de distância”. Tal proximidade, na verdade, parecia poder ser<br />

traduzida em termos de intimidade, por saber –ou não- os nomes, mas, sobretudo, por<br />

saber o que “acontecia” ‘dentro’ da casa.<br />

O relato da cunhada também manifestava claramente o papel que, na visão dela,<br />

cumpriram os “vizinhos” nos episódios narrados. Diante da impossibilidade, ou<br />

incapacidade [e o termo adequado seria objeto de múltiplas interpretações e ‘teorias’],<br />

de Marisa dar conta das tarefas domésticas e do cuidado dos filhos, bem como de buscar<br />

emprego quando poderia tê-lo precisado, os “vizinhos” –“todos os vizinhos”-<br />

auxiliaram ela, “levando comida”, “a chamando”, se “revolucionando” diante de seus<br />

problemas. A imediata mobilização deles em relação às necessidades de Marisa – a<br />

sogra sem emprego, a ida do marido-, evidenciava a atenção outorgada sobre aquilo que<br />

acontecia na vida de Marisa. Ao mesmo tempo, a “raiva” e o “cansaço” deles, expressos<br />

pela cunhada, pareciam evidenciar a reprovação diante do bem-estar de Carlos –“viam<br />

que ele estava ótimo, com celular, arrumado”-, assim como o desconforto diante da falta<br />

de agradecimento de Marisa – “nunca a vejo agradecer coisa nenhuma”.<br />

Também a figura dos “vizinhos” se manifestava no depoimento da assistente<br />

social que tinha atendido Marisa e as crianças desde o programa da prefeitura. Assim<br />

como a cunhada deu um extenso depoimento, carregado, não só de opiniões<br />

profissionais, mas também de emoções pessoais, sobre as quais vou tratar mais adiante.<br />

Aqui, quase como uma continuidade com o depoimento da cunhada, chamou-me<br />

novamente a atenção o aporte da voz –longínqua e anônima- daquilo que “os vizinhos<br />

dizem...”.<br />

(...) Assistente social: os vizinhos dizem que Carlos os ameaçou e aí eu<br />

perguntei se ele era violento e disseram que sim, mas eu nunca tinha visto ela<br />

machucada.<br />

Alicia: você conhecia Carlos?<br />

Assistente social: cruzei com ele uma vez só, quando morreu o menininho. Mas,<br />

antes, em agosto, eu fiquei sabendo de uma triste realidade que é que os vizinhos<br />

dizem que esse senhor havia vendido um dos carrinhos de bebê que uma vizinha<br />

tinha dado para Marisa, que ganha muito mais dinheiro do que ele mesmo dizia,<br />

que quando a roupa estava com cocô não a lavava, mas a jogava fora.<br />

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