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Baixar - Proppi - UFF

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Sebastián aproveitou a ocasião para perguntar pelo tal Raúl Lucero. Mas Javier<br />

disse que nunca tinha ouvido falar dele e que, no caso de vê-lo, nem o reconheceria.<br />

Continuaram-se perguntas sobre a hora em que Cacá lhe pediu a bicicleta, a hora em<br />

que retornou, a hora em que Raúl teria dito que mataram Cacá, a hora em que Cacá<br />

entrou à casa por pedido da mãe, com que amigos estava Cacá na esquina, entre outras.<br />

Enquanto Sebastián imprimia a ata, Javier disse:<br />

“Eu estou depondo isto porque acredito que ele é inocente, é que ele é incapaz<br />

de matar alguém. O que eu conheço dele é legal, terá suas coisas, mas é legal,<br />

usa droga, tudo, mas é legal. O cara é incapaz de fazer uma coisa dessas”.<br />

Sebastián olhou para ele e disse: “está bem, essa é sua opinião, mas eu digo para<br />

você que caiu dezenove vezes preso quando era menor”.<br />

Com certa surpresa aparente, Javier respondeu: “não sabia, nós as vezes nos<br />

olhávamos mal, porque ele se metia muito na minha relação com a irmã dele”.<br />

Embora, naquele momento, Sebastián não lhe prestasse muito atenção, Javier<br />

parecia preocupado por manifestar sua opinião sobre Cacá e conseguir, de alguma<br />

maneira, uma atitude favorável. Porém, ao tempo que mostrava uma relação próxima,<br />

demarcava uma distância prudencial, que Sebastián acabou por perceber.<br />

O segundo em depor na UFI foi Walter. Diferentemente dos cunhados, Walter<br />

conhecia Cacá desde os seis anos de idade. Morava no bairro e costumava “parar” de<br />

noite na esquina com Cacá e outros amigos, para beber cerveja. Disse que “alguma<br />

coisa tinha ouvido” sobre Cacá estar preso por um homicídio, mas que “da morte da<br />

moto só soube dias antes da citação para depor chegar à minha casa”. “Como assim?”,<br />

perguntou Sebastián. “A mãe [de Cacá] disse que da defensoria precisavam alguém<br />

próximo que seja testemunha e me pediu que lhe desse uma mão e eu disse que tudo<br />

bem”. A mobilização dos familiares de um “imputado”, ou eventualmente, de uma<br />

“vítima”, na busca e localização de testemunhas era comum a vários processos. Como<br />

muitos dos “fatos” aconteciam no bairro e na área do “imputado” ou da “vítima”, os<br />

familiares tinham a possibilidade de buscar e conversar com possíveis testemunhas 230 .<br />

Isto acontecia, em muitos casos sob orientação do defensor, mas ficava, como referi,<br />

sempre sob responsabilidade do familiar. Segundo advogados particulares entrevistados,<br />

também o fato sobre o que dizer quando forem depor ficava aos cuidados dos<br />

familiares, pois, como mencionei no Capítulo 5, eles, como defensores, não podiam<br />

230 Situação também identificada e descrita por Pita (2006) nos casos investigados por “violência<br />

policial”.<br />

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